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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Contempla

Te vejo do outro lado dessa parede de vidro.

Podia ser de qualquer outro material,
mas é transparente.
Então, não consigo fingir que não sei que você está aí dentro,
sozinho
Com frio, quem sabe?
E tem um jardim tão bonito aí dentro. Com balanços e banquinhos. Árvores e lagartas.
Você parece saber minhas cores favoritas,
as flores que tem os perfumes que mais me agradam
Coloco as mãos nesse redoma e tento sentir o calor da vida que você cultiva aí dentro.
Aqui fora está gelado;
Meus lábios já escureceram e mal consigo abrir os olhos por causa da geada nos meus cílios
E meus cabelos estão imóveis e molhados
As pontas dos meus dedos eu nem sinto
Mas eu não tiro as mãos da parede
Minhas mãos estão nuas, só pra conseguir capturar qualquer faísca de vida que meus olhos encontraram ao seu redor

Posso voltar
Às vezes tenho impressão de te ouvir me mandar embora, ou pedir que eu volte pra minha casa, onde é mais seguro, e onde não venta tanto.

Deveria ir, minhas flores, aquelas que eu plantei e reguei sozinha, têm saudade,
os pássaros assobiam nosso código de socorro.
Mas tenho medo de esquecer o caminho de volta

Sabe, eu sempre fui ruim em decorar direções,
sumo os mapas, ou os jogo fora sem pensar.
Piso e quebro minhas bússolas sem querer.

Eu ando tão distraída...

Decido ficar mais um pouco, mas somente a pele não é suficiente pra manter meus órgãos em uma temperatura segura
Já estou completamente nua há um tempo,
Nem sei onde ficaram minhas roupas.
Corro perigo.

Meu sangue corre cada vez mais lento, o coração está atordoado.
Olho pra trás, meus pássaros vieram ao meu resgate.
Antes de ir, espio seu esconderijo,
nossos olhares de encontram.
Vejo sua alma, e ela é tão transparente e  limpa quanto a redoma.

Decido ficar mais um pouco,
enquanto meu corpo estiver de pé.

Se tem algo que aprendi com o amor é:
No chão eu não fico.

sábado, 29 de julho de 2017

Você pensou em tudo, escreveu as regras, racionalizou nuances pouco conhecidas de sentimentos tão comuns. Gosta de ir além,
Já eu,
Eu só sei sentir coração pulando, pedindo pra ser pego pelas suas mãos,
Pra ser plantado no seu jardim, e finalmente florescer
Minha cabeça também pulsa com mil planos e ideias de como seria daqui pra frente se você viesse.
Mas as palavras são muitas, a vontade é muita
Falta coragem
É covardia disfarçada de princípios
É medo com cara de sensatez

Sinto uma ponta de orgulho de mim mesma porque, depois de tudo e tanto, ainda sigo no escuro, mesmo sabendo que em algum lugar existe um abismo.
Já caí e morri mais do que gostaria de ser capaz de lembrar e contar
Mas a vida é boa todas as vezes

Que seja.

sábado, 22 de julho de 2017

Tudo novo

Não preciso ser salva de nada
Decidi eu mesma correr por aí
Bom que te encontrei fazendo o mesmo:
Procurando belezas parecidas, inspirações
Deve ser pra ser?

A gente viu que o mundo é bom, mas as cores tem mais sabor quando se desfruta junto
Será?

Dessa vez vou sem medo,
sem desespero:
seu coração é bom.

Essa é toda certeza que preciso.

sábado, 5 de maio de 2012

Amor para estranhos

Lá estava a minha mão: grudada na sua, sugada, atraída. Primeiro de mãos dadas, depois, nossos nomes: nos apresentamos, você me oferece uma carona no final da festa.
Eu te sigo. Em meu coração, decido te seguir sempre... ou por aquela noite, pelo menos.
Penso:
Que bom ter recusado todos os outros. Ter saído com meu coração vazio, para procurar uma música que me fizesse dançar, comemorar qualquer coisa... a vida.
Que bom acreditar no estranho que sorri franco.


Abre a porta e deixa que eu entre na sua casa, cozinha, quarto, sala, parece feliz por eu te aceitado. Como eu estou feliz em estar ali, meu colo desejado, ele quer conversar.


Ele quer dormir, e me quer ao seu lado. Conheço sua pele, seu cabelo mas ainda não lembro a cor dos olhos. A cama vira nuvem, ou tapete voador. Nuvem para as menininhas, tapete voador, para os meninos.


É aconchegante, é simples, é o que eu esperava ter um dia. 


Dorme e acorda. É feliz. Me faz sentir a rainha do lugar. Rainha dos lençóis molhados do banho de piscina que arriscamos na madrugada. Rainha da sua camisa azul marinho, seca. 


Conta a vida, conto a minha. Avó, tias, mãe. Tesouros compartilhados, sonho que se conheceriam um dia.


O Sol aparece, eu acordo e ando pelo corredor, vejo os títulos dos livros, os instrumentos que guarda. Volto para a nuvem. O afeto rapidamente toma conta da minha alma, te imagino pequeno, como devia dormir igual a agora, profundo e despreocupado.


Penso:
Seremos uma boa dupla.


Você diz que vê o futuro, e que lá, tudo irá se repetir.


Você me deixa em casa, as horas passam. Eu digo pra todo mundo que achei. Até pra quem não perguntou  o motivo do meu bom humor, da gargalhada descabida, o rosto saudável. 


Mas eram achados sem certezas. Só o meu número gravado no seu celular e nenhuma previsão de que fosse buscado um dia. Meias palavras e eu bancando de  bom entendedor. Fingindo entender tudo. Que aprendi, em uma noite, um novo código. Que havia um acordo. Que quando a festa acabasse, você me levaria de novo. Se não tivesse festa, me buscaria no fim de qualquer coisa. No fim do dia, da manhã, da aula, do jogo, do trabalho... não importa. Havia um acordo. Você voltaria para me buscar.
Pensei em dizer qualquer coisa de exagerado, porém, completamente coberto de carinho: me trouxe vida, luz e cor... em um dia.



Você pergunta o que eu esperava. Era mais daquilo. Quem era você? Não era esse que me vê na rua e mal me percebe. Não percebe que vim buscar mais. E eu percebo, viu? E não quero entender porque me recusa tudo.
Será um novo acordo? 




sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Da indignação ao conformismo

Vivendo crise de abstinência de você. Intercalada de um sossego incoerente, frio e falso e em que eu acredito. Num momento, sou suficiente, segura e resolvida. No outro, uma criança assustada, desprotegida, indefesa: percebo que estou sem você e é assim que vou estar. E sinto raiva. Muita. Por ter acreditado, aceitado minhas fantasias e especulações. Raiva de você por ter me beijado a testa, as pernas, o dorso; usado as palavras 'gostar', 'você' e 'eu' ns mesma frase; dito que queria ficar mais, ter me levado pela mão, me colocado entre suas pernas e me abraçado ali mesmo. Raiva porque tudo aconteceu pura e simplesmente por causa do seu desejo de "curtir" seja lá o que for, seja eu. Raiva por ainda pensar nisso, não apagar de uma vez a sua fisionomia. Vergonha por ter me emocionado ao ver o prazer brincar com a expressão de seu rosto, ao sentir a ponta dos seus dedos tocar a minha pele, ao perceber suas costas suarem por causa de nós. Vergonha por precisar escrever até aqui _ único jeito de me livrar dessas lembranças _ vergonha maior de ter abrigado em mim o significado de cada palavra que usei; vergonha de ter dificuldade de separar o que é real, oque se tem, do que é imaginado, do que se quer ter. Raiva por você não ter me explicado que casos assim não duram mais que uma fase de lua: se você me explicasse eu aceitaria, ficaria mais leve e fácil. Não sobraria pedaço de você. Raiva por parecer tão rendida, tão cheia e transbordada de paixão. Satisfeita por poder afirmar que sou apaixonada sim. Mas não é por nenhum homem ou mulher que pise esta terra. Sou apaixonada pela vida e sua manifestação em mim e nos outros. E em uns poucos que eu escolho pra apreciar e comemorar à sós, nus e desarmados. Sendo assim, não fuja nem desapareça. Quero poder olhar de novo seu peito descoberto, seus olhos semi cerrados, a boca tão perto. Mas dessa vez, eu vou lembrar que não fomos feitos pra ficar tão perto e que um minuto a mais que passarmos assim - dentro do outro - vai ser o ponto alto do dia... e nada mais.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Mergulho

E eu fiquei de todas as cores, a todas distâncias possíveis do chão (inclusive dentro dele).
E eu pulsei em todas as frequências. As grandes artérias esmurram meu pescoço, pulsos, vísceras; se debatem. O rosto ferve, o suor borbulha na minha superfície. Os músculos congelam.
É assim que é estar de cara limpa e corpo presente no meio do mundo. De frente pro mundo e seus absurdos e suas concretudes, suas pessoas.
Por algumas horas estive sem capa, cobertor, teto de gesso, paredes e portas para me abraçarem. Estive lá fóra.
Fato que pode ter me mudado em alguma medida. Fato que poderia me forçar para dentro de mim mais ainda.
Penso em não ir, embora não saiba onde exatamente ficar. Depois que chegar da rua, da aventura, do dever... onde recostar?
Não quero travesseiros cheios de penas de gansos mágicos ou algodão doce enfeitiçado nem folhas de uma floresta encantada.
Acho que hoje eu vou dormir sem travesseiro.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ai.

Dividida entre estar com você, no escuro, ou seguir em direção ao Sol, a quem devo a vida.
Seria melhor se viesse para cá, afinal, você é tão humano quanto eu e, ambos precisamos de luz, água e pão. No escuro onde você está não existe nada disso, você não sente?
E seus amigos? E suas amantes? E sua paixão? Um passo grande demais é abandonar. Eu sei. Passo por isso.
Eu poderia ficar um pouco na noite com você, quando pedisse, quisesse, chamasse. De dia eu voltava e esquecia. Mas não foi concedido a ninguém ter duas faces, duas identidades, dois corações: um pra se perder, outro pra se salvar. Agir como se isso fosse possível é colocar a vida em cheque, é brincar com as leis, é arriscado, ou pior, é certamente desastroso.


Digo assim porque admito que não sou totalmente invulnerável a seu semblante esquadrinhador, o sorriso de canto de boca, e a voz que te obedece como se fosse sua escrava.
Escrevo para acabar de uma vez por todas com os resquícios e memórias que de vez em quando me capturam e maltratam.
Mas não acredito muito que assim será.
Se pelo menos houvesse algo palpável o qual eu pudesse quebrar ou cortar para então sumir... mas não há.
Está tudo aqui: dentro.
Temo não conseguir encará-lo quando o ver.
Temo.
Tremo.
Uma ampulheta derramando areia pra me avisar que está quase no fim, ajudaria.
Só faço pedir.
Que acabe logo, logo. Não é possível... Não deve ser.

Casas

Você deve rir-se da situação de quem, como eu, vive partido. Um duelo sem fim entre bem e mal: dores de cabeça. Você está livre, encontrou um meio-termo e está muito bem, obrigado. Nenhum peso nos ombros, nenhuma fraqueza inexplicável, nenhum desejo que te coma.
Resta-me esperar pelo último dia de nossas vidas, ou da sua, ou da minha. Em casos extremos a verdade aparece; a mentira não aprendeu a ficar de pé, só rasteja.
E se você ficar pra sempre aí? Pra sempre pensando estar certo, ou "_não existe isso de certo!", você diria.
Diria também que isso de 'pra sempre' não existe, tudo pode mudar a qualquer momento por qualquer motivo. Basta sair de casa.
Você saiu de casa. Não quer voltar. Lá não funciona pra você. Aliás, seu lá é meu cá hoje em dia. O que deu errado? Por que não funciona mais? Como você vive longe? Como você pôde adotar outra casa? Por que?
E uma angústia louca por não entender, por que estou angustiada?
Não sou sua mãe nem sua amiga de infância que te viram ir embóra, se afastando, um passo de cada vez. Elas que talvez doam por você não estar mais.
Quando não se sabe como agir, chora. Coisa de mulher. Mulher como eu, não todas. Existem as de fibra, as guerreiras. Mas eu desconheço o inimigo, não sou boa estrategista; sou de pó.
Tem tanta coisa colorida aí fóra, não é? Tantas luzes, tantos sons... Deve ser isso o que te fascina. Ou será a liberdade para sentir ventos de qualquer lugar no rosto, conhecer corpos e rostos diferentes, rir descontroladamente sob o efeito de alguma mágica...


É como se fosse uma missão; trazê-lo de volta.
Mas você não quer vir...


Choro.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Desencaixotando.

Um post que  nunca publiquei, até agora:

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Você parece buscar a perfeição. Algo de divino... maravilhas da criação.

Eu procuro a cicatriz, a falta de simetria, os relevos da pele, as marcas das paixões, das rivalidades, do tempo.

As falhas, as gafes,

Ser humano me comove porque isso implica assumir a herança de genes imperfeitos, é se assumir resultado de uma combinação improvável ou até estranha. Ser brasileiro, então, é mais encantador ainda!

É ter olhos de negra, boca de índia, quadris de européia, nariz dos outros três juntos.

A pele macia, os cabelos escuros e sadios, os músculos firmes e bem nutridos, os traços harmoniosos são artigos de luxo importado que um punhado de moças possui. E, ao apreciar toda essa conspiração da natureza em favor de poucas (e dos nossos olhos), eu vejo um molde, melhor, matéria-prima: uma boa peça de peruca, boas medidas para a máscara e a fantasia, uma boa textura de pele para ser imitada pelos cosméticos, e é isso.

Curto o cheiro de suor, o cheiro dos lubrificantes naturais, do hálito depois de comer a fruta.

Sentir-me gente, que faz sujeira, que depende de água, que toma banho de lama, que precisa de sexo, que gosta de açúcar.

Desse jeito não dói nem destrói ninguém porque desse jeito é que é natural.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Em que posso ajudar?

_Uma alma simples e uma água sem gás, por favor.
_Como assim de que tipo?Do tipo incolor, inodora, insípida, etc, etc. 
_Ah, a alma?
_Do tipo incolor, inodora, insípida, etc, etc. Sem sal, sem açúcar, sem gordura, sem carboidrato, sem vitamina nem nenhum desses elementos nutritivos. Tô precisando emagrecer.
_É assim: Tirar o peso da existência, da vida, do mundo, dos outros, entende? Parar com isso de tridimensões, pés distantes do chão, descompasso, essas coisas.
_Porque esse é o meu plano B, ora. É o plano de fuga.
_Se preocupa não. Existem coisas bonitas por aqui também. Eu vou aprender a nadar no raso, pensar menos. Isso de poesias/rimas/canções não levaram ninguém a nenhum lugar.
_Eu tenho certeza. Se eu estiver errada, me explica porque o coração não fica em cima, no lugar do cérebro? Então, vou seguir quem estiver por cima da situação. Só crer no que ver, talvez no que tocar. Mas quem manda mesmo é esse emaranhado de miolos e nervos aqui. É nisso que confio.
_Ei, anda logo com meu pedido. Tô com sede.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Um filme pelos meus olhos.

PS: Sobre "Blindness" (ou "Ensaio sobre a cegueira"), filme de Fernando Meirelles (2008), adaptado do livro de mesmo nome escrito pelo Nobel José Saramago, em 1995:


Mais que a valentia da mulher do médico, a tirania reproduzida entre as paredes do "depósito humano" pelo rei da Ala 3 e sustentada pelo cego de nascença, a covardia de um grupo de homens ao propor que o sexo fosse moeda de troca por comida, e tantas outras cenas que monopolizam a atenção de grande parte dos expectadores, a leitura do velho negro em relação a tudo que se passava à sua volta foi o que mais me emocionou. Primeiro que a experiência e segurança das pessoas que vivem neste mundo há mais de meio século, me toca tremendamente. Quem pode ousar contestá-los quando em um debate sobre os fenômenos de ação e reação dos quais nem um ser vivo pode escapar?
(Segundo em diante seguem sem marcação).
Pois bem, esse velho havia feito do banheiro a sua moradia, mas ele tinha um rádio. Depois que deram-lhe um lugar no já lotado "dormitório", sempre sorridente, ele transmitiu as informações dos noticiários que ouviu e, quando terminou, percebeu que um silêncio de morte pairava ali. Todos haviam se aglomerado e pareciam esperar. Esperavam, talvez, que seus corpos mergulhassem no "mar de brancura": a única imagem que podiam contemplar através dos olhos súbita e inexplicavelmente cegos. Esperavam as mudanças seguintes à perca de um dos sentidos. Mudanças que exigiam dor e auto negação.
O velho, porém, parecia deliciar-se naquela atmosfera densa e selvagem que induzia todos a se prostrarem diante das próprias fragilidades e instintos. Sem noção do tempo, sentia-se infinito. Uma eternidade caminhando sobre o "mar de leite".
E, quando se caminha sobre o mar, a jornada é igualmente infinita.
Ele sabia que agora que não havia espaço para divisões segundo a classe social, a etnia, o credo ou a beleza. A igualdade de condições tão duras impostas indistintamente os nivelava e os resumia a animais lutando pela sobrevivência. Se não por esperança de um futuro melhor, lutavam simplesmente porque é isso que sempre fizeram os animais em toda a história de sua existência, logo, atendiam a um chamado visceral e primitivo.
Ele decidiu que fazia-se necessário gastar a pouca bateria do seu radinho de mão para embalar aqueles seres tão assustados. A música vira a protagonista do momento, o único remédio que o acaso lhes cedeu. A ala toda era música, os pés registravam o ritmo e, durante aqueles minutos, pareceu ser bom ter apenas as lembranças e fantasias como referência da realidade.
Alguns não se importavam em cobrir suas "vergonhas". Usar roupas seria mesmo a última tentativa de se convencerem civilizados quando não há comida, água potável nem sabonete suficientes.
Quanto ao velho, ele escolheu despir o coração. Seu olhar gentil conquistado pela idade agora traduzia-se na fala mansa à beira de uma fogueira declarando seus desejos à moça. Era o que desejava sua alma.
Até que um deles voltou a enxergar. O fim de um flagelo. Enfim, as poucos a vida de antes seria reconquistada e retornariam à normalidade morna e farta. O trabalho, o contato com os familiares e amigos, a retomada da perseguição aos sonhos... seria o paraíso. Donos de uma gratidão inimitável à liberdade, se destacariam em qualquer grupo com qual escolhessem conviver: são imunes às pequenas agruras do cotidiano e desequilíbrios emocionais que afetam os relacionamentos da nossa era. Superaram desafios infinitamente maiores, sentiram a humilhação no seu sentido mais cru.
Talvez usem dessa nova compreensão para tomar as dores dos tantos oprimidos (semelhante ao que eles foram) espalhados pelos continentes afora. Ou talvez não queiram mais reviver as angústias e a impotência diante de forças implacáveis genericamente nomeadas como 'Corporações financeiras', 'Estado Capitalista', 'Burguesia', 'Globalização', etc.
De qualquer maneira, a história continuará se repetindo em algum lugar do globo. Essa era a condição. E nós aceitamos.

Para os ex-cegos, cada estilhaço voltaria ao seu lugar para recompor o grande quebra-cabeça da "ordem" universal.
Não para o velho negro que voltou a ser refém de seu corpo antigo e perecível.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Tarde como outra.

Vontade de cantarolar uma música no pé do teu ouvido.
Pensando bem, se você estivesse tão perto a ponto de ouvir um cochicho musical, eu não precisaria proferir essa canção que me torra a paciência agora.
"Me telefona. Chama, me chama, me chama, me chama-a-a-a-a-a-a".
Okay. Isso pareceu infantil e imaturo depois de escrito mas, a realidade deve ser encarada de frente. E é só o que eu tenho diante de mim nesse instante: uma tela de computador com umas letrinhas que se movimentam à medida em que pressiono as teclas do teclado. Elas avançam e recuam e avançam até que a mentora do texto se deixa vencer e publica qualquer coisa com a desculpa da espontaneidade.
Já que é pra ser transparente e franca (mesmo que eu corra o risco de parecer boba), vou logo me adiantando e contando o que tem passado pela minha cabeça nos últimos dias.
Por acaso estou de férias e é início de ano.
Fico preocupada ao perceber que todos tem razão: é um período importante. Logo, o Reveillon era pra ter sido importante, ou seja, começo o ano me arrependendo de não ter dado a devida importância à mística transição de um ano para outro. Talvez isso explique em partes, o porquê da onda de mal estar e ressurreição de questões mal resolvidas do ano findo.
As noites foram estonteantemente lindas graças à genialidade do Supremo Criador. Ontem, por exemplo, a lua estava imensa e pendia para a direita do ponto em que eu fixei as vistas. Tão brilhante e mentirosa... Porque ela não brilha coisíssima nenhuma. Se não fosse o sol (que ninguém elogia ao meio dia), não teríamos mais o motivo principal da babação noturna. Quanto à lua, sempre lembram de exaltá-la, não importa a hora. Pronto, agora estou com raiva da lua.
Sou encantada mesmo é pelas nuvens. Elas sim me deixam boquiaberta. Minha paisagem preferida é um céu coberto de nuvens com seus formatos tão diversos que parecem ter sido esculpidos pelas mãos do próprio Todo Poderoso. São esculturas que transmitem emoções e despertam sentimentos e reflexão. Como conseguir tudo isso apenas observando as nuvens? Tente ser só mais um pouquinho alienado. Porém, tão logo lembre, volte ao seu estado natural por mais frio e pessimista que seja. É mais seguro.
Nunca fiquei tão feliz em escrever um texto tão desconexo! Isso significa que eu fugi totalmente do assunto inicial e isso é bom de verdade.
Imagine só, eu aqui pensando em canções que clamam pela presença do objeto desejado e este mesmo objeto em algum outro lugar pensando qualquer coisa que nada tenha a ver com minha humilde existência! Então eu me tornaria mais humilde ainda.
Voltar aos meus afazeres agora.




sábado, 19 de dezembro de 2009

Despertar

Se eu não contasse eu não iria me sentir completa.
Guardar sensações como aquelas chega a ser egoísmo. Compartilhá-las é minha ambição.
O notável é que não foram emoções novas que me invadiram o corpo durante o sonho. Foram as de um passado não muito distante. Por isso fico feliz em concluir que tenho me entregado inconscientemente à mais essa forma de amar.
Perdoe-me o verbo (amar) mas é que ele tem tantas faces... umas mais verdadeiras que outras mas é amor. No entanto, se você acredita cegamente que amor é verdade sempre, pode ir. Ou então fique se eu te convencer com o argumento que o que eu aceito como verdade pode não ser para outro. No fim das contas, o amor é o que a gente procura.
Mas não é essa a questão.
Acordei serena e angustiada, confusa e bem resolvida. É que a mente cria 'emendas' para que o pouco que existe na vida real seja correspondente aos desejos do coração.
Coração enganoso? Eu gosto assim. Gosto de sentir raiva quando longe e logo depois perdoar quando perto. Perdôo traições não cometidas mas imaginadas; porém, as traições não podem existir pois ele tem asas e disse que eu as tenho também. Asas na mente, no corpo, nos sexos, na língua e no ser.
Além do mais, só existe lugar pra um na sua garupa. É assim que eu prefiro pensar. Eu sou matéria excedente em sua rotina e logo que chego, saio para dar espaço ao outro que estava ali.
Eu vim pra ficar no lugar de alguém quando este se distrai. Não cabem promessas nem laços de alma. É temporário e indefinido. Não sei quando vai aparecer uma fenda para eu invadir por ali.. assim sem aviso, sem oferecer chances de defesa. Só vou embora quando sinto que devo; não adianta me dar essa ordem. Eu vou saber quando você não precisar da infecção que eu provoco. Eu vou saber quantos anticorpos seus eu vou matar.
Eu também curo. Selo pequenos arranhões com minha saliva, faço enxertos com minha própria pele. Sou remédio, sou droga, sou alívio.
Peço que fique ao alcance dos meus olhos sempre que possível e se deixe sem medo em minhas mãos... Eu saberei o que fazer.

domingo, 25 de outubro de 2009

Nova parada

Como música quero que me ouça e absorva as ondas que emanam do sons deste arranjo de harmonias.
Mantenho uma certa distância, se isso lhe for necessário. Deixo espaço para que respire, coma e beba e até corra. Na verdade, te vigio só com o canto do olho esperando um aceno para então virar completamente o rosto em sua direção. Me aceite naquele intervalo parado no tempo; é um convite para que eu viva aquele instante com você... Percebe a seriedade da proposta? Compartilhar dos mesmos minutos, os mesmos irrecuperáveis e singulares minutos.
Se me pedir silêncio, sufoco meus gritos de desalento, os choros sem razão, escondo os cortes que me expõem os ossos. Para que durma tranquilo, sem perturbações... Para que eu possa acompanhá-lo ali, ao pé de[...]


Não posso continuar com isso de escrever tudo.
As palavras me roubam os sentimentos. Assim eu os perco e não estou em condições de perder o pouco que tenho.
Quando aprender a dominá-las (e a mim), volto e conto tudo. Só quando parar de atribuir tanta emoção à esse conjunto de letras.
Preciso parar.