quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sobre jardins e pessoas

Quero sorrir e quero chorar. Quero ser todas elas: as loiras, as ruivas, as orientais (se é que encontrou uma). Quero ser a única jambo.
Calma, não balance a cabeça. Contento-me em estar no centro de um pequeno bosque a nordeste do ponto de referência mais importante que tiver, seja ele qual for. 
Eu sei que existem outros esconderijos, cavernas e estátuas. Porque eu sei que você não é um jardim; é floresta. 
Que eu quero conhecer com cada linha de minha digital; 
toda vez que trocar de pele, quero apresentar minha superfície à você; 
quando uma nova gota de saliva ou suor brotar de mim quero oferecer para deguste de sua língua; 
antes de os odores se desprenderem e ganharem o ar, quero que os inale e entorpeça; 
cravar minhas unhas em você antes que eu as corte e elas cresçam sem te conhecer.


Se não posso ser todas (elas) ainda há a chance se ser toda (eu). E uma pessoa inteira vale muito; vale mais que várias pessoas-pela-metade (ou nem isso) juntas. Você vale mais e, se meus olhos brilham, é de ver tanta riqueza junta.
Não vou mentir dizendo que não sinto medo quando chega a noite e ouço barulhos estranhos, risos escancarados, asas batendo das folhas _ festa na floresta. Medo de definhar esquecida em um lugar sem água nem alimento. De sofrer e você não se importar. 
Mas a bem da verdade é que não se importa. E eu sei. E fico. Elas sabem e ficam. Andamos nuas a te servir, alegremente; uvas na boca, água quente nos pés. E fico não sei porque. Por não ter pra onde ir? Por gostar de algo  misterioso que só tem ali? Fico.
Se eu beber você fico jovem pra sempre; e eu bebo _ se se colocar a um gole de distância de mim. Não me censuro, nem você. 
Espero no tal bosque escondido, a nordeste, etc. É só seguir o barulho das águas inquietas, borbulhantes: meu sangue quando te ouço aproximar.