segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Pesar

Ninguém saberia dizer a quanto tempo ela mantém sua mão direita no queixo, os olhos parcialmente cerrados, a mão esquerda segurando quase com raiva seu próprio joelho.

Seu vestido de festa deve ter sido arrancado enquanto ela estava sentada porque parte do seu corpo está coberto, parte não. Pálida moça, o que será que a inquieta tanto? Sua silhueta é tão confusa quanto uma imagem mergulhada na água, seus cabelos estranhamente quase dançam como se dança na água.

E tem um homem no quarto. A sombra que cobre seu rosto torna impossível reconhece-lo. Permanece em posição fetal, com os braços abraçando as pernas, como que para se proteger. O corpo está sobre um móvel podre, sua cabeça ameaça pesar para dentro do espaço entre seus joelhos e seu queixo.

A moça parece tentar falar qualquer frase impronunciável. Do modo como está sentada, sua visão deve alcançar o vulto do homem atrás dela, mas não parece assustada.

O quarto é úmido, mas sufocante, a única janela está fechada, é como se não houvesse porta... Nem ar. Vestígios de luz entram através dos espaços entre as partículas do vidro da janela e criam uma penumbra secular.

Os músculos desses dois seres foram paralisados por um pincel, a parede sustenta seus corpos, e é como se tivessem deixado de respirar no momento em que se encaixaram nela.