terça-feira, 23 de outubro de 2007

Pra chorar.

Olha, a única coisa que sinto vontade de fazer é vomitar palavras, mastigar o dicionário e cuspir cada letra e fazer uma confusão, provocar um caos.
Não é do caos que vem a harmonia? Ora pois, se nas faxinas semanais, ou mensais (ou até mesmo anuais, vá saber...), não tiramos tudo do lugar pra depois pôr de volta?
O caos é necessário. Também é necessário o nojo, o repúdio, a teimosia.
Esmurrar pessoas invisíveis, dar chute em elementos inapalpáveis, gritar, grunir, urrar.
Os músculos do corpo inteiro parecem entrar pela primeira vez em conflito, mas é uma questão de tapas e beijos, amor e ódio, liberdade e escravidão. Eles querem se desprender de mim e se diluírem em qualquer solvente barato. Querem vida própria, democracia anatômica, fim à ditadura cerebral!
Mas é necessário.
No ímpeto de se compreender ou a um outro ser humano talvez devamos percorrer o caminho desde o início. Desfazermo-nos para logo depois as partículas que se agrupem e o sopro que sopre, e a paciência que perca a cabeça.
Quem sabe não há jeito menos dolorido? Quem sabe se existe mesmo dor?
Quero o prazer dos masoquistas e a compaixão da irmã Dulce.
Levantei dia desses sem lembrar que existia morte, mas na minha frente um caixão ocupado. Pele pálida, quase sem expressão, um leve sorriso, eu diria.
Prefiro pensar que era um sorriso de quem vai largar as amarguras e esquecer as agruras e ir pra Deus sabe onde. Pele enrugada, velha e cada dobra tem uma história.
Ponho o mundo pra fóra de mim nesse exato momento. Pra ver se amanhã acordo sem essa impressão de tê-lo carregado a noite toda.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Só mais um.

Parece que os traços realistas e naturalistas da literatura que tanto me é penoso estudar, por fim me influenciaram de tal modo as idéias que eu desisto de escrever antes mesmo de pensar em algo.
É que venho sofrendo de um pensamento: o que insiste em lembrar que nada disso é necessário.
Os papéis e as flores dos romances já murcharam há décadas, por mais que tenham lhe impressionado, livros sempre param no fundo de uma caixa empoeirada.
Então pra quê encaixar em uma sequência quase lógica de palavras bonitas e meio incomuns ao cotidiano um sentimento mais volátil que as próprias mentes que a irá processar?
Pra quê expor as dores, os amores, os medos, as dores de cotovelo enrustidas se alguém com certeza já fez isso e incomodamente melhor?
Desculpa mas, não venham cá atrás de revelações assustadoras sobre algum disfarce descoberto, ou uma conclusão estarrecedora como a futilidade do ser humano.
Meu egoísmo me permite fazer vítima quando for conveniente.
A argila de que fui feita me permite despedaçar,
eu posso me desfazer, derreter e ser moldada mais uma e outra vez.
E a lista de coisas sujas e sublimes do homem (cuja integralidade desconheço pelo bem do meu sono), me induz a pensar na hipocrisia.
E chego a outro extremo (que nada mais é que um misto sintetizado de teorias): para falar de assuntos pertencentes ao lado belo da vida, é preciso mentir que o lado mau não existe ou atenuar o impacto que ele causa initerruptamente nas nossas pobres almas. E vice-versa.
Mas lógico que é plenamente possível que falemos da beleza das coisas consideradas más.
Ou até mesmo, o que é mau pra um, é sinônimo de normalidade para outro.
Cabe à qualquer um mais desocupado, filosofar se o fato de algo ser normal o torna bom ou ruim.
Pra finalizar esse comentário disforme e sem propósito, o único julgamento cabível servirá para constatar se há nele algum fundo de verdade, ou se é tudo babaquisse. O que é bem mais provável.
Mas daí seria preciso nos precipitarmos para a teoria da relatividade ou qualquer outro fruto da tentativa arriscada de tentar entender 'gente'.