segunda-feira, 20 de setembro de 2010

gota dagua

Precisando descompressar meu coração:
Olhar para as minhas raízes, que estão cada dia mais distantes enquanto cresço, e ter que receber toda essa seiva suja, bruta, ácida, mortal...
um balão de ar que enche-se toda vez que seus discursos invadem meus ouvidos, minha cabeça pesa; não  posso explodir.
e eu ali do alto, enchergando como era bonito o jardim
como era bonito, meu Deus!
o que aconteceu de uns metros pra cá? Quem trouxe a areia do deserto? Quem estragou meu jardim? Por que não sinto borboletas, nem lagartas nas folhagens, não ouço pássaros?
Só uma pequena rosa insiste em se exibir em meio à paisagem desoladora: existe uma rosa! Ela parece ser doce, macia, saudável... Ela é a força da vida.
E minhas raízes secas e famintas bebem a água da rosa; da mesma água. Parecem fazer parte de troncos distintos mas nutrem o mesmo corpo. Não sabem que, por serem tão grandes e velhas, não podem anularem-se ou eu seco. Vou ficar apenas com a metade de uma seiva que não deixará de ser bruta nem suja nem ácida.
Estendo meus braços o máximo que posso para alcançar o lago e o trago para perto, mas as raízes estão cegas, insensíveis... Não sentem o frescor do líquido correndo por entre minhas fendas e dobras. Meu alívio, meu bálsamo: cura.
Não quero fotografias do que restou do jardim, lá atrás. Quero dar passagem para a água que parece viva; as raízes dividem o cenário em dois: Forma-se uma muralha e a água não pode avançar.
O jardim cresce em um ponto que só eu consigo ver; o lado deles está seco, triste, morto.
Tento explicar, pedir que me ajudem a derrubar o muro mas ele não entendem a língua que eu aprendi e eu não lembro qual era a língua que eu costumava usar antes. Em alguns momentos até, fico muda; em outras, pronuncio algo que remeta a amor e o ar que sái da minha boca voa pra longe... eu espero o vento mudar de direção e revirar a terra; soprar no fundo da terra onde as raízes esconderam o ouro.
Preciso aguentar mais um pouco. Sinto um milagre a caminho. Daqui a pouco, talvez, a muralha se rompa, então, tudo será irrigado de novo e um jardim novo em folha vai...
E não haverá mais pedras nem buracos ou armadilhas.
Um relevo plano e verde; montanhas e nenhum vale grande demais.

Vejo o céu que, ao contrário do jardim, não muda. Continua perfeitamente inteiro e seguro de sua grandeza. Cobre a todos e às vezes chora. Peço para o Dono que nos veja; que nos ajude.

Já não vejo porque mantenho os olhos fechados em oração.
Eu espero você se juntar a mim. E seremos um lindo jardim novamente.