sábado, 5 de maio de 2012

Amor para estranhos

Lá estava a minha mão: grudada na sua, sugada, atraída. Primeiro de mãos dadas, depois, nossos nomes: nos apresentamos, você me oferece uma carona no final da festa.
Eu te sigo. Em meu coração, decido te seguir sempre... ou por aquela noite, pelo menos.
Penso:
Que bom ter recusado todos os outros. Ter saído com meu coração vazio, para procurar uma música que me fizesse dançar, comemorar qualquer coisa... a vida.
Que bom acreditar no estranho que sorri franco.


Abre a porta e deixa que eu entre na sua casa, cozinha, quarto, sala, parece feliz por eu te aceitado. Como eu estou feliz em estar ali, meu colo desejado, ele quer conversar.


Ele quer dormir, e me quer ao seu lado. Conheço sua pele, seu cabelo mas ainda não lembro a cor dos olhos. A cama vira nuvem, ou tapete voador. Nuvem para as menininhas, tapete voador, para os meninos.


É aconchegante, é simples, é o que eu esperava ter um dia. 


Dorme e acorda. É feliz. Me faz sentir a rainha do lugar. Rainha dos lençóis molhados do banho de piscina que arriscamos na madrugada. Rainha da sua camisa azul marinho, seca. 


Conta a vida, conto a minha. Avó, tias, mãe. Tesouros compartilhados, sonho que se conheceriam um dia.


O Sol aparece, eu acordo e ando pelo corredor, vejo os títulos dos livros, os instrumentos que guarda. Volto para a nuvem. O afeto rapidamente toma conta da minha alma, te imagino pequeno, como devia dormir igual a agora, profundo e despreocupado.


Penso:
Seremos uma boa dupla.


Você diz que vê o futuro, e que lá, tudo irá se repetir.


Você me deixa em casa, as horas passam. Eu digo pra todo mundo que achei. Até pra quem não perguntou  o motivo do meu bom humor, da gargalhada descabida, o rosto saudável. 


Mas eram achados sem certezas. Só o meu número gravado no seu celular e nenhuma previsão de que fosse buscado um dia. Meias palavras e eu bancando de  bom entendedor. Fingindo entender tudo. Que aprendi, em uma noite, um novo código. Que havia um acordo. Que quando a festa acabasse, você me levaria de novo. Se não tivesse festa, me buscaria no fim de qualquer coisa. No fim do dia, da manhã, da aula, do jogo, do trabalho... não importa. Havia um acordo. Você voltaria para me buscar.
Pensei em dizer qualquer coisa de exagerado, porém, completamente coberto de carinho: me trouxe vida, luz e cor... em um dia.



Você pergunta o que eu esperava. Era mais daquilo. Quem era você? Não era esse que me vê na rua e mal me percebe. Não percebe que vim buscar mais. E eu percebo, viu? E não quero entender porque me recusa tudo.
Será um novo acordo?