terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Até a hora de voltar.

E o engraçado é que ninguém percebeu que seu depósito de emoções dignas de dissertações estava chegando ao fim. Mas o fim era mais que certo ao se levar em conta suas penúltimas palavras. Penultímas sim, porque na últimas, parecia que tudo ia mesmo era melhorar, que ela iria esquecer sua má educação, seus vícios, seus malacaquisses. (e sim, eu quis inventar uma palavra nova porque foi o jeito).
Aparentava equilíbrio, teve quem achasse que seria a grande reforma de que seu ser precisava, vida normal na medida do possível de seus deslizes... Mas não era bem assim. Começou com uma inocente greve contra o lápis e o papel, uma pequena revolta contra a fórmula correta das redações, abstinência das vaidades ordinárias, menos de uma: a vaidade da sabedoria.
Para conseguir esse tesouro cobiçado desde a época do filho de Davi, o sábio Salomão, sua manobra mais sensata foi manter sua mente bem aberta, wide open, total free por já ter ouvido falar que isso funciona pra alguma coisa que não sei mais o que era. Sabe dos meios mas nada dos fins. E ficou tudo branco por um bom tempo, não nega que vez em quando ficava tudo listrado, fazendo ruído ou com pontinhos pretos como quando o canal da tv fica fora do ar, mas ficou enxuta de idéias, absorvia algo de teorias, polêmicas e paradoxos. Daí a pouco tempo se recusava a dizer ou fazer qualquer coisa de inútil, queria tudo certo, irrepreensível, simétrico, pensou ter o poder de ser dona do futuro e se não a impedissem, iria querer conquistar o mundo.
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Parou e deitou na grama. Se perguntou o por que disso tudo e em um espaço indefinido de tempo já haviam pra quês, comos, ondes e quandos o suficiente pra sufocar a si mesma e lá se iam seus esforços para se tornar um ser humano melhor.
Pensou em estrelas cadentes e planetas inabitáveis. É certo que delirava, cores fortes, era quase violenta a sua explosão de flor que brota por susto. Assustada em ver o mundo?
Então lembrou do mistério da inutilidade. De como é bom estar em lugar nenhum fazendo qualquer nada de importante com quem quer que se sinta bem ao seu lado.
Jurou nunca mais andar tão em círculos assim, e adormeceu como adormece o Sol. A partir daí nascia todos os dias junto com ele. E morria, e nascia. Era a própria gurdiã desse pequeno cordão que é a vida.