sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

De mim pra mim (e quem mais quiser!)


Eu posso criar um novo padrão. Uma nova frequência de emoções pode acontecer dentro de mim a partir de agora: e eu quero que seja completamente aleatória!
Quero liberar mais de adrenalina...e vou logo acabando com as pretensões: Eu tenho imaginação o suficiente pra isso, então vamos lá!
Estou andando quase cambaleante com o ar úmido a interagir com meus pêlos, é tudo úmido. Há dias que o céu ameaça chover... mas é disso que ele mais gosta de brincar!
Aproveito pra tirar os sapatos encharcados e me sinto linda com minha blusa de lã coloridissima nos tons alaranjados que combinam tanto com o outono e com a cor da minha pele morena.
Fico tão linda nessa foto em que os ventos tão bagunçando meus cabelos ondulado e escuros! Como não se apaixonar?
Não é a tôa que estamos juntos e viajando o mundo: ele é nosso! Somos feitos de energia como a das estrelas!
Estou exausta de correr mas isso me dá espasmos de prazer! Ofegante e suada, estou linda!
Todos os ritmos das etnias medievais se misturam com os sons do último bandolim e eu só quero dançar. Parece que consigo dar impulsos tão potentes que a gravidade se deixa anular e eu não caio! Flutuo bons segundos e me vejo feliz por ter quebrado a barreira dos sonhos. Eu invadi a mim mesma, enfim dona do meu inconsciente. Dona dos seus segredos.
Lágrimas refrescam o corpo já quente do esforço da corrida: eu faço minha própria chuva com elas!
Me deixa só mais um pouco me empanturrar disso sozinha! Deixa eu agradecer aos céus por ter você, deixa eu inventar um grito de paz, uma saudação ao por do sol!
Me deixa explodir de vontade de ser!!!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Não, eu não tenho desvios

quando criança eu me perguntava como eles conseguiam fazer tantos amigos.
depois passei a me perguntar como eles se relacionavam com as pessoas.
aí eu me pergunto como eles conseguem viver?
eu queria poder me deitar em um daqueles divãs de couro marrom claro de algum ator encenando um psiquiatra famoso e deixar que ele consertasse minha cabeça.
mas eu nem me lembro se no final todos eles não passam de fracassados ou farsantes.
o bom de escrever é que quando os pensamentos são registrados, a voz diabólica que os cochichou simplesmente se cala e aí fica tudo parecendo uma grande bobagem.
eu queria falar em ser frágil e morrer de fragilidade.
queria por fogo na casa se tivesse certeza de que o que restaria seria apenas cinzas.
olha que bobagem!
parece que todos os humanos um dia tem que tomar uma decisão mas isso não é verdade.
tem gente que tem dinheiro e não precisa fazer nada.
por que a gente é obrigado a sair do útero delas e viver nossas vidas?
isso parece tão cruel...
condenado a sobreviver e ainda por cima ser feliz.
que maldade!
mas lá vem eles dizendo que não entendem.
mas o fato é que, mais que qualquer outra coisa, eu me sinto um feto.
indefeso e nojento feto que não poderia se defender de um aborto.
mas é verdade. sabia que às vezes eu me embolo com as palavras como se estivessse esquecido todas elas? é como se eu estivesse em um país estrangeiro querendo apenas passar despercebida. daí eu falo qualquer coisa de ininteligível e eles ficam me olhando como se eu fosse uma retardada.
é... seria uma boa desculpa pois eu teria passe livre pra fazer a única coisa que sei fazer: observar. e ninguém me perguntaria o que eu penso, o que eu sinto. No máximo me tratariam como uma criança e me julgariam altista. e eu morreria sem a culpa de ter fracassado em ser gente.
mas eles ficariam assustados demais se me ouvissem, talvez até adoecessem.
Não, eu não quero ser mais pesada ainda. Deixa as coisas assim.
Meus medos são os de parar em uma clinica psiquiátrica e morar na casa de meus pais aos 30 anos de idade e não poder sair por saber que ainda não estou preparada pra vida.

sábado, 22 de novembro de 2008

...e saí.

[...]“Na hora do parto, perguntei ao médico: ‘Doutor, a minha filha é perfeita?’”, diz Laurinda. “Ele me respondeu: ‘O que é ser perfeita? É ter braços? Pernas? Então ela é perfeita’”.

[...] “Foi um choque descobrir que a minha filha era Down. O médico me contou da pior forma possível. Disse que ela ia ter um monte de doenças, ter problemas cardíacos e ia morrer. Até que uma amiga me alertou que eu teria de escolher entre fechá-la dentro de casa ou abri-la para o mundo. Vesti a Gabriela com a melhor roupa e saí.”

[...]







Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI11982-15228,00-MAMAE+E+DOWN.html

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Pesar

Ninguém saberia dizer a quanto tempo ela mantém sua mão direita no queixo, os olhos parcialmente cerrados, a mão esquerda segurando quase com raiva seu próprio joelho.

Seu vestido de festa deve ter sido arrancado enquanto ela estava sentada porque parte do seu corpo está coberto, parte não. Pálida moça, o que será que a inquieta tanto? Sua silhueta é tão confusa quanto uma imagem mergulhada na água, seus cabelos estranhamente quase dançam como se dança na água.

E tem um homem no quarto. A sombra que cobre seu rosto torna impossível reconhece-lo. Permanece em posição fetal, com os braços abraçando as pernas, como que para se proteger. O corpo está sobre um móvel podre, sua cabeça ameaça pesar para dentro do espaço entre seus joelhos e seu queixo.

A moça parece tentar falar qualquer frase impronunciável. Do modo como está sentada, sua visão deve alcançar o vulto do homem atrás dela, mas não parece assustada.

O quarto é úmido, mas sufocante, a única janela está fechada, é como se não houvesse porta... Nem ar. Vestígios de luz entram através dos espaços entre as partículas do vidro da janela e criam uma penumbra secular.

Os músculos desses dois seres foram paralisados por um pincel, a parede sustenta seus corpos, e é como se tivessem deixado de respirar no momento em que se encaixaram nela.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Até a hora de voltar.

E o engraçado é que ninguém percebeu que seu depósito de emoções dignas de dissertações estava chegando ao fim. Mas o fim era mais que certo ao se levar em conta suas penúltimas palavras. Penultímas sim, porque na últimas, parecia que tudo ia mesmo era melhorar, que ela iria esquecer sua má educação, seus vícios, seus malacaquisses. (e sim, eu quis inventar uma palavra nova porque foi o jeito).
Aparentava equilíbrio, teve quem achasse que seria a grande reforma de que seu ser precisava, vida normal na medida do possível de seus deslizes... Mas não era bem assim. Começou com uma inocente greve contra o lápis e o papel, uma pequena revolta contra a fórmula correta das redações, abstinência das vaidades ordinárias, menos de uma: a vaidade da sabedoria.
Para conseguir esse tesouro cobiçado desde a época do filho de Davi, o sábio Salomão, sua manobra mais sensata foi manter sua mente bem aberta, wide open, total free por já ter ouvido falar que isso funciona pra alguma coisa que não sei mais o que era. Sabe dos meios mas nada dos fins. E ficou tudo branco por um bom tempo, não nega que vez em quando ficava tudo listrado, fazendo ruído ou com pontinhos pretos como quando o canal da tv fica fora do ar, mas ficou enxuta de idéias, absorvia algo de teorias, polêmicas e paradoxos. Daí a pouco tempo se recusava a dizer ou fazer qualquer coisa de inútil, queria tudo certo, irrepreensível, simétrico, pensou ter o poder de ser dona do futuro e se não a impedissem, iria querer conquistar o mundo.
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Parou e deitou na grama. Se perguntou o por que disso tudo e em um espaço indefinido de tempo já haviam pra quês, comos, ondes e quandos o suficiente pra sufocar a si mesma e lá se iam seus esforços para se tornar um ser humano melhor.
Pensou em estrelas cadentes e planetas inabitáveis. É certo que delirava, cores fortes, era quase violenta a sua explosão de flor que brota por susto. Assustada em ver o mundo?
Então lembrou do mistério da inutilidade. De como é bom estar em lugar nenhum fazendo qualquer nada de importante com quem quer que se sinta bem ao seu lado.
Jurou nunca mais andar tão em círculos assim, e adormeceu como adormece o Sol. A partir daí nascia todos os dias junto com ele. E morria, e nascia. Era a própria gurdiã desse pequeno cordão que é a vida.