domingo, 23 de abril de 2017

Nessas horas que percebo o quanto os pulmões ficam pequenos quando minha mente está ocupada quase que toda pela ideia da sua presença;

O intenso desejo, a vaga esperança de que, ao andar por aqui, vou tropeçar em você.

Fumo um cigarro antes de sair de casa, porque já sei que não é você aquele cara dobrando a esquina. Você não anda olhando pro chão, nem carrega nada nas mãos.

Meu cérebro bate contra meu crânio tentando se comunicar telepaticamente, tentando inventar teletransporte, transferência de sentidos, qualquer coisa que aplaque essa ânsia de estar perto,

Mas eu me tornei a fonte do seu medo. Minha obsessão é grande demais pra se disfarçar. Exalo vontade de digerir seu cheiro
engolir sua pele
arrancar sua saliva

Fumo outro cigarro enquanto saio sem motivo de casa, me agarrando à um sexto sentido falho que me diz que você está por perto.
Mas não está. Nem se estivesse aqui, não estaria. Suas asas são grandes e pesadas, te impedem de ficar em um só lugar.
Sua mente é uma floresta povoada por milhares de espécies peculiares, que só podem habitar em seu ser.
Ondas enormes e salgadas e violentas de sangue são bombeadas pelo seu corpo a cada segundo. E eu só penso em me afogar ali. Faz alguma maldade comigo, mas olha pra mim.

Não adianta. Seu olhar transpassa qualquer parede quilométrica de concreto. Enxerga o invisível, quer ganhar o mundo, eu te levo.

Posso ser um pedaço da sua canoa, só me deixa ficar perto.