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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Contempla

Te vejo do outro lado dessa parede de vidro.

Podia ser de qualquer outro material,
mas é transparente.
Então, não consigo fingir que não sei que você está aí dentro,
sozinho
Com frio, quem sabe?
E tem um jardim tão bonito aí dentro. Com balanços e banquinhos. Árvores e lagartas.
Você parece saber minhas cores favoritas,
as flores que tem os perfumes que mais me agradam
Coloco as mãos nesse redoma e tento sentir o calor da vida que você cultiva aí dentro.
Aqui fora está gelado;
Meus lábios já escureceram e mal consigo abrir os olhos por causa da geada nos meus cílios
E meus cabelos estão imóveis e molhados
As pontas dos meus dedos eu nem sinto
Mas eu não tiro as mãos da parede
Minhas mãos estão nuas, só pra conseguir capturar qualquer faísca de vida que meus olhos encontraram ao seu redor

Posso voltar
Às vezes tenho impressão de te ouvir me mandar embora, ou pedir que eu volte pra minha casa, onde é mais seguro, e onde não venta tanto.

Deveria ir, minhas flores, aquelas que eu plantei e reguei sozinha, têm saudade,
os pássaros assobiam nosso código de socorro.
Mas tenho medo de esquecer o caminho de volta

Sabe, eu sempre fui ruim em decorar direções,
sumo os mapas, ou os jogo fora sem pensar.
Piso e quebro minhas bússolas sem querer.

Eu ando tão distraída...

Decido ficar mais um pouco, mas somente a pele não é suficiente pra manter meus órgãos em uma temperatura segura
Já estou completamente nua há um tempo,
Nem sei onde ficaram minhas roupas.
Corro perigo.

Meu sangue corre cada vez mais lento, o coração está atordoado.
Olho pra trás, meus pássaros vieram ao meu resgate.
Antes de ir, espio seu esconderijo,
nossos olhares de encontram.
Vejo sua alma, e ela é tão transparente e  limpa quanto a redoma.

Decido ficar mais um pouco,
enquanto meu corpo estiver de pé.

Se tem algo que aprendi com o amor é:
No chão eu não fico.

sábado, 5 de maio de 2012

Amor para estranhos

Lá estava a minha mão: grudada na sua, sugada, atraída. Primeiro de mãos dadas, depois, nossos nomes: nos apresentamos, você me oferece uma carona no final da festa.
Eu te sigo. Em meu coração, decido te seguir sempre... ou por aquela noite, pelo menos.
Penso:
Que bom ter recusado todos os outros. Ter saído com meu coração vazio, para procurar uma música que me fizesse dançar, comemorar qualquer coisa... a vida.
Que bom acreditar no estranho que sorri franco.


Abre a porta e deixa que eu entre na sua casa, cozinha, quarto, sala, parece feliz por eu te aceitado. Como eu estou feliz em estar ali, meu colo desejado, ele quer conversar.


Ele quer dormir, e me quer ao seu lado. Conheço sua pele, seu cabelo mas ainda não lembro a cor dos olhos. A cama vira nuvem, ou tapete voador. Nuvem para as menininhas, tapete voador, para os meninos.


É aconchegante, é simples, é o que eu esperava ter um dia. 


Dorme e acorda. É feliz. Me faz sentir a rainha do lugar. Rainha dos lençóis molhados do banho de piscina que arriscamos na madrugada. Rainha da sua camisa azul marinho, seca. 


Conta a vida, conto a minha. Avó, tias, mãe. Tesouros compartilhados, sonho que se conheceriam um dia.


O Sol aparece, eu acordo e ando pelo corredor, vejo os títulos dos livros, os instrumentos que guarda. Volto para a nuvem. O afeto rapidamente toma conta da minha alma, te imagino pequeno, como devia dormir igual a agora, profundo e despreocupado.


Penso:
Seremos uma boa dupla.


Você diz que vê o futuro, e que lá, tudo irá se repetir.


Você me deixa em casa, as horas passam. Eu digo pra todo mundo que achei. Até pra quem não perguntou  o motivo do meu bom humor, da gargalhada descabida, o rosto saudável. 


Mas eram achados sem certezas. Só o meu número gravado no seu celular e nenhuma previsão de que fosse buscado um dia. Meias palavras e eu bancando de  bom entendedor. Fingindo entender tudo. Que aprendi, em uma noite, um novo código. Que havia um acordo. Que quando a festa acabasse, você me levaria de novo. Se não tivesse festa, me buscaria no fim de qualquer coisa. No fim do dia, da manhã, da aula, do jogo, do trabalho... não importa. Havia um acordo. Você voltaria para me buscar.
Pensei em dizer qualquer coisa de exagerado, porém, completamente coberto de carinho: me trouxe vida, luz e cor... em um dia.



Você pergunta o que eu esperava. Era mais daquilo. Quem era você? Não era esse que me vê na rua e mal me percebe. Não percebe que vim buscar mais. E eu percebo, viu? E não quero entender porque me recusa tudo.
Será um novo acordo? 




terça-feira, 23 de agosto de 2011

O contrário de tudo que já quis e fui.

A música no fone de ouvido antes de dormir não é para dar prazer aos sentidos: cala o pensamento. Este que anda tão inquieto à procura de respostas que nunca vai achar porque estão na posse de um outro que não eu. Então invento. Digo que escrevi a música e a próxima da playlist é sua, dedicada a mim. Não importa o que os cantores digam. Se são palavras duras e revoltadas ou doces e meigas. Porque eu só preciso que digam algo e não me deixem nesse silêncio assustador. 
Olha, sou só eu ocupando esse espaço tão grande.... por que não dois? Por que não nós? É só minha voz que conversa comigo; por que não a sua?
Está cada vez mais difícil dizer algo "do fundo do coração". Ele é buraco negro sem fundo sem chão sem pelúcia vermelha sem.
É isso mesmo: tem sido um cotidiano de subtrações. E isso não é eufemismo para furtos. Nada me foi roubado, como os mais acostumados com meu drama e extremismos poderiam supor. Aquele dito sobre o que é seu volta, me convence. Só não me alegra. E por um detalhe: nada tenho.
A não ser um corpo abandonado, ideias que não lhe interessariam, e um futuro flexível... até demais. Isso de poder ser tudo e nada às vezes me paralisa. Mas a gente segue, querendo ou não, sabendo ou não porque é assim que é.
Minto: não fui de todo subtraída. Ganhei uns quilos, umas dores de cabeça, uns sonhos estranhos. Nada que me atrapalhe, juro. Minha única preocupação é quanto a essa vontade louca de ir pro último dia do ano e nunca ter sabido seu nome. Muito menos seu endereço. Menos ainda você narrando suas histórias; menos chuvas, menos mãos, menos sol, menos comida, menos madrugada, menos filmes, menos sala, menos. Menos.
Estranho isso de querer reduzir, quem antes só queria saber de chegar.

domingo, 10 de abril de 2011

Post scriptum

Faltou eu analisar melhor minhas frases, calcular os gestos com mais exatidão, planejar os passos seguintes com mais inteligência.
Sobrou eu imaginar que morava em seu ser o mesmo inquilino meu: um sábio senhor de todos os bons sentimentos; que toca flauta pra gente dormir e diz frases profundas pra gente refletir. Sobrou olhar, pele, menos tempo.
Pra no 'fim', sobrar a falta.
Uso aspas porque o que houve não foi um fim, foi um silêncio. Não sei se um silêncio de dor, de medo, de orgulho, de preguiça...
Meu consolo é não ser proibida de escolher um desses silêncios pra ser a resposta que preciso; embora saiba que satisfazer minhas necessidades não me acalenta.
Me acalmaria ouvir que você chegou pra contar qualquer novidade, pra assistir qualquer coisa, qualquer dia desses. Ao mesmo tempo, chego à beira do desassossego quando penso que posso passar o mês inteiro esperando ouvir que você chegou. E de mês em mês lá se vai uma vida inteira...
E se chegasse, o sábio que hoje dorme, acordaria com seus conselhos e dengos.
Quem sabe eu não iria acertar?


Quer minha franqueza? Sinto como se houvesse morte. Não me julgue exagerada. Algo realmente  voltou ao pó e perdeu o fôlego. Sufocado até o último suspiro: assassinato. E não é linguagem abstrata.
Quem eu era quando tinha você por perto, morreu. Quem você se deixava ser quando estava comigo, não existe mais.
Funeral para dois.
Olho longamente pra esses corpos jovens e sem vida. Têm os rostos tão corados que tenho a impressão de que apenas dormem.
Se esse sono vai acabar ou não...




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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Água

Livros meus aparecem úmidos. Minha mesa, meu travesseiro, minha roupa.
Encontro gotas transparentes em toda a parte. No chão do corredor, da cozinha, no pano de prato.
Se estou no meio de uma conversa qualquer, desvio a atenção por um segundo e ... mais gotas.
Olho pra partitura e ela está embaçada: é o véu molhado que me venda.
E eu espalho todo esse rio de lágrimas pela cidade. Nas praças, na padaria, na biblioteca. Lá estão elas comigo. E o pior é que me pegam de surpresa; posso estar sorrindo e distraída, estarão lá a qualquer momento.


É assim desde que foi embora sem avisar quem me ensinou a ser firme e mandar nas minhas nascentes. Ser dona delas e não um meio de desaguá-las.
Nem me incomoda tanto assim a falta de aviso mas sim a falta de laço. Um fiozinho de seda que não machucava, eu queria no meu braço e no seu. Mas tinha que ser o mesmo fio. Aceitaria que fosse longo. Tão longo que fosse da minha casa à sua sem quebrar. Da minha casa à cachoeira sem quebrar. E só. Se fosse pro mar, aí... teria que me levar junto. Mas só por capricho meu. Se quisesse, eu ajeitava a linha, esticava, esticava até sangrar meu dedo. Sangrasse o meu, o seu não. Só pra você ir lá e ver o mar, e sentir a brisa salgada, e correr na areia.
Se ainda lembrasse de mim aqui do outro lado, voltava. Se não, cortava com corais enquanto estivesse mergulhando fundo. Eu não ia ficar triste. Eu esperava até ter sua mão perto de novo pra perguntar se você aceita. Se aceita eu colocar seu coração pra descansar no meu lençol.


Mas não tem linha nenhuma. Nem volta.
Por isso minhas coisas vão continuar úmidas e eu, secando por dentro.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Irreversível

É indizível, tá bem?!
Esse mal estar, essa culpa, esse arrependimento todo. Embora essa seja a situação ideal para traduzir tudo em palavras, eu não consigo. Vim aqui querendo muito.
Posso dizer uma coisa: é como se eu estivesse diante de um jarro caro e exótico, difícil de se achar e, então, por descuido, o quebrasse, provocasse um arranhão, que seja. Não é mais o mesmo jarro; pra qualquer outro que olhe talvez seja; até a própria percepção que o jarro tem de si pode ser a mesma. O fato é que ele está arranhado e eu não tenho meios de consertar. Já consertei outros antes, mas esse era único.
Não posso olhar para aquela pontinha quebrada: eu choro. E não é silencioso; é doído, é incompreensível, afinal, que tenho eu com o pobre jarro?
É que não solto o pedaço que ficou comigo. Mesmo que entre na minha carne, não solto e não entendo.
Só dói. Não há muito que dizer além disso.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Em que posso ajudar?

_Uma alma simples e uma água sem gás, por favor.
_Como assim de que tipo?Do tipo incolor, inodora, insípida, etc, etc. 
_Ah, a alma?
_Do tipo incolor, inodora, insípida, etc, etc. Sem sal, sem açúcar, sem gordura, sem carboidrato, sem vitamina nem nenhum desses elementos nutritivos. Tô precisando emagrecer.
_É assim: Tirar o peso da existência, da vida, do mundo, dos outros, entende? Parar com isso de tridimensões, pés distantes do chão, descompasso, essas coisas.
_Porque esse é o meu plano B, ora. É o plano de fuga.
_Se preocupa não. Existem coisas bonitas por aqui também. Eu vou aprender a nadar no raso, pensar menos. Isso de poesias/rimas/canções não levaram ninguém a nenhum lugar.
_Eu tenho certeza. Se eu estiver errada, me explica porque o coração não fica em cima, no lugar do cérebro? Então, vou seguir quem estiver por cima da situação. Só crer no que ver, talvez no que tocar. Mas quem manda mesmo é esse emaranhado de miolos e nervos aqui. É nisso que confio.
_Ei, anda logo com meu pedido. Tô com sede.