A música no fone de ouvido antes de dormir não é para dar prazer aos sentidos: cala o pensamento. Este que anda tão inquieto à procura de respostas que nunca vai achar porque estão na posse de um outro que não eu. Então invento. Digo que escrevi a música e a próxima da playlist é sua, dedicada a mim. Não importa o que os cantores digam. Se são palavras duras e revoltadas ou doces e meigas. Porque eu só preciso que digam algo e não me deixem nesse silêncio assustador.
Olha, sou só eu ocupando esse espaço tão grande.... por que não dois? Por que não nós? É só minha voz que conversa comigo; por que não a sua?
Está cada vez mais difícil dizer algo "do fundo do coração". Ele é buraco negro sem fundo sem chão sem pelúcia vermelha sem.
É isso mesmo: tem sido um cotidiano de subtrações. E isso não é eufemismo para furtos. Nada me foi roubado, como os mais acostumados com meu drama e extremismos poderiam supor. Aquele dito sobre o que é seu volta, me convence. Só não me alegra. E por um detalhe: nada tenho.
A não ser um corpo abandonado, ideias que não lhe interessariam, e um futuro flexível... até demais. Isso de poder ser tudo e nada às vezes me paralisa. Mas a gente segue, querendo ou não, sabendo ou não porque é assim que é.
Minto: não fui de todo subtraída. Ganhei uns quilos, umas dores de cabeça, uns sonhos estranhos. Nada que me atrapalhe, juro. Minha única preocupação é quanto a essa vontade louca de ir pro último dia do ano e nunca ter sabido seu nome. Muito menos seu endereço. Menos ainda você narrando suas histórias; menos chuvas, menos mãos, menos sol, menos comida, menos madrugada, menos filmes, menos sala, menos. Menos.
Estranho isso de querer reduzir, quem antes só queria saber de chegar.
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terça-feira, 23 de agosto de 2011
domingo, 10 de abril de 2011
Post scriptum
Faltou eu analisar melhor minhas frases, calcular os gestos com mais exatidão, planejar os passos seguintes com mais inteligência.
Sobrou eu imaginar que morava em seu ser o mesmo inquilino meu: um sábio senhor de todos os bons sentimentos; que toca flauta pra gente dormir e diz frases profundas pra gente refletir. Sobrou olhar, pele, menos tempo.
Pra no 'fim', sobrar a falta.
Uso aspas porque o que houve não foi um fim, foi um silêncio. Não sei se um silêncio de dor, de medo, de orgulho, de preguiça...
Meu consolo é não ser proibida de escolher um desses silêncios pra ser a resposta que preciso; embora saiba que satisfazer minhas necessidades não me acalenta.
Me acalmaria ouvir que você chegou pra contar qualquer novidade, pra assistir qualquer coisa, qualquer dia desses. Ao mesmo tempo, chego à beira do desassossego quando penso que posso passar o mês inteiro esperando ouvir que você chegou. E de mês em mês lá se vai uma vida inteira...
E se chegasse, o sábio que hoje dorme, acordaria com seus conselhos e dengos.
Quem sabe eu não iria acertar?
Quer minha franqueza? Sinto como se houvesse morte. Não me julgue exagerada. Algo realmente voltou ao pó e perdeu o fôlego. Sufocado até o último suspiro: assassinato. E não é linguagem abstrata.
Quem eu era quando tinha você por perto, morreu. Quem você se deixava ser quando estava comigo, não existe mais.
Funeral para dois.
Olho longamente pra esses corpos jovens e sem vida. Têm os rostos tão corados que tenho a impressão de que apenas dormem.
Se esse sono vai acabar ou não...
.
Sobrou eu imaginar que morava em seu ser o mesmo inquilino meu: um sábio senhor de todos os bons sentimentos; que toca flauta pra gente dormir e diz frases profundas pra gente refletir. Sobrou olhar, pele, menos tempo.
Pra no 'fim', sobrar a falta.
Uso aspas porque o que houve não foi um fim, foi um silêncio. Não sei se um silêncio de dor, de medo, de orgulho, de preguiça...
Meu consolo é não ser proibida de escolher um desses silêncios pra ser a resposta que preciso; embora saiba que satisfazer minhas necessidades não me acalenta.
Me acalmaria ouvir que você chegou pra contar qualquer novidade, pra assistir qualquer coisa, qualquer dia desses. Ao mesmo tempo, chego à beira do desassossego quando penso que posso passar o mês inteiro esperando ouvir que você chegou. E de mês em mês lá se vai uma vida inteira...
E se chegasse, o sábio que hoje dorme, acordaria com seus conselhos e dengos.
Quem sabe eu não iria acertar?
Quer minha franqueza? Sinto como se houvesse morte. Não me julgue exagerada. Algo realmente voltou ao pó e perdeu o fôlego. Sufocado até o último suspiro: assassinato. E não é linguagem abstrata.
Quem eu era quando tinha você por perto, morreu. Quem você se deixava ser quando estava comigo, não existe mais.
Funeral para dois.
Olho longamente pra esses corpos jovens e sem vida. Têm os rostos tão corados que tenho a impressão de que apenas dormem.
Se esse sono vai acabar ou não...
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segunda-feira, 4 de abril de 2011
Água
Livros meus aparecem úmidos. Minha mesa, meu travesseiro, minha roupa.
Encontro gotas transparentes em toda a parte. No chão do corredor, da cozinha, no pano de prato.
Se estou no meio de uma conversa qualquer, desvio a atenção por um segundo e ... mais gotas.
Olho pra partitura e ela está embaçada: é o véu molhado que me venda.
E eu espalho todo esse rio de lágrimas pela cidade. Nas praças, na padaria, na biblioteca. Lá estão elas comigo. E o pior é que me pegam de surpresa; posso estar sorrindo e distraída, estarão lá a qualquer momento.
É assim desde que foi embora sem avisar quem me ensinou a ser firme e mandar nas minhas nascentes. Ser dona delas e não um meio de desaguá-las.
Nem me incomoda tanto assim a falta de aviso mas sim a falta de laço. Um fiozinho de seda que não machucava, eu queria no meu braço e no seu. Mas tinha que ser o mesmo fio. Aceitaria que fosse longo. Tão longo que fosse da minha casa à sua sem quebrar. Da minha casa à cachoeira sem quebrar. E só. Se fosse pro mar, aí... teria que me levar junto. Mas só por capricho meu. Se quisesse, eu ajeitava a linha, esticava, esticava até sangrar meu dedo. Sangrasse o meu, o seu não. Só pra você ir lá e ver o mar, e sentir a brisa salgada, e correr na areia.
Se ainda lembrasse de mim aqui do outro lado, voltava. Se não, cortava com corais enquanto estivesse mergulhando fundo. Eu não ia ficar triste. Eu esperava até ter sua mão perto de novo pra perguntar se você aceita. Se aceita eu colocar seu coração pra descansar no meu lençol.
Mas não tem linha nenhuma. Nem volta.
Por isso minhas coisas vão continuar úmidas e eu, secando por dentro.
Encontro gotas transparentes em toda a parte. No chão do corredor, da cozinha, no pano de prato.
Se estou no meio de uma conversa qualquer, desvio a atenção por um segundo e ... mais gotas.
Olho pra partitura e ela está embaçada: é o véu molhado que me venda.
E eu espalho todo esse rio de lágrimas pela cidade. Nas praças, na padaria, na biblioteca. Lá estão elas comigo. E o pior é que me pegam de surpresa; posso estar sorrindo e distraída, estarão lá a qualquer momento.
É assim desde que foi embora sem avisar quem me ensinou a ser firme e mandar nas minhas nascentes. Ser dona delas e não um meio de desaguá-las.
Nem me incomoda tanto assim a falta de aviso mas sim a falta de laço. Um fiozinho de seda que não machucava, eu queria no meu braço e no seu. Mas tinha que ser o mesmo fio. Aceitaria que fosse longo. Tão longo que fosse da minha casa à sua sem quebrar. Da minha casa à cachoeira sem quebrar. E só. Se fosse pro mar, aí... teria que me levar junto. Mas só por capricho meu. Se quisesse, eu ajeitava a linha, esticava, esticava até sangrar meu dedo. Sangrasse o meu, o seu não. Só pra você ir lá e ver o mar, e sentir a brisa salgada, e correr na areia.
Se ainda lembrasse de mim aqui do outro lado, voltava. Se não, cortava com corais enquanto estivesse mergulhando fundo. Eu não ia ficar triste. Eu esperava até ter sua mão perto de novo pra perguntar se você aceita. Se aceita eu colocar seu coração pra descansar no meu lençol.
Mas não tem linha nenhuma. Nem volta.
Por isso minhas coisas vão continuar úmidas e eu, secando por dentro.
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Irreversível
É indizível, tá bem?!
Esse mal estar, essa culpa, esse arrependimento todo. Embora essa seja a situação ideal para traduzir tudo em palavras, eu não consigo. Vim aqui querendo muito.
Posso dizer uma coisa: é como se eu estivesse diante de um jarro caro e exótico, difícil de se achar e, então, por descuido, o quebrasse, provocasse um arranhão, que seja. Não é mais o mesmo jarro; pra qualquer outro que olhe talvez seja; até a própria percepção que o jarro tem de si pode ser a mesma. O fato é que ele está arranhado e eu não tenho meios de consertar. Já consertei outros antes, mas esse era único.
Não posso olhar para aquela pontinha quebrada: eu choro. E não é silencioso; é doído, é incompreensível, afinal, que tenho eu com o pobre jarro?
É que não solto o pedaço que ficou comigo. Mesmo que entre na minha carne, não solto e não entendo.
Só dói. Não há muito que dizer além disso.
Esse mal estar, essa culpa, esse arrependimento todo. Embora essa seja a situação ideal para traduzir tudo em palavras, eu não consigo. Vim aqui querendo muito.
Posso dizer uma coisa: é como se eu estivesse diante de um jarro caro e exótico, difícil de se achar e, então, por descuido, o quebrasse, provocasse um arranhão, que seja. Não é mais o mesmo jarro; pra qualquer outro que olhe talvez seja; até a própria percepção que o jarro tem de si pode ser a mesma. O fato é que ele está arranhado e eu não tenho meios de consertar. Já consertei outros antes, mas esse era único.
Não posso olhar para aquela pontinha quebrada: eu choro. E não é silencioso; é doído, é incompreensível, afinal, que tenho eu com o pobre jarro?
É que não solto o pedaço que ficou comigo. Mesmo que entre na minha carne, não solto e não entendo.
Só dói. Não há muito que dizer além disso.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Vinicius
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar seus olhos que são doces...
[...]
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
V. de Morais
Comentário: Se já disseram antes, pra que acrescentar? Que venha o velho.
[...]
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
V. de Morais
Comentário: Se já disseram antes, pra que acrescentar? Que venha o velho.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Teoria do Sonho
Não vai acontecer, eu sei.
Você não estará ao meu lado olhando para as mesmas paredes úmidas, sentindo o vento invadir as janelas de madeira tão abertas.
E quanto aos beijos frequentes que sinalizam sua vontade de me ter pra sempre em sua saliva; o olhar cuidadoso, o corpo quente, as mãos morenas e arrebatadoras?
Ficará tudo no sonho. Esquecido ou guardado.
Só sei que hoje meu dia vai ser bem mais feliz.
Senti um suspiro na nuca segundos antes de levantar.
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