sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Ela

A senhorinha de cabelos branquíssimos
anda pelas ruas da cidade em que vivo
com a firmeza de uma moça de 20
Mas eu sei que dentro dela estão todas as vidas passadas possíveis
Certamente de rainhas e amazonas
Porque ela pisa o chão de pedras com a braveza das figuras mais fortes da história

A senhorinha de cabelos branquíssimos
mora perto de mim
mas eu não sei o nome dela.
Penso em perguntar, mas tenho medo de atrapalhar seu caminho
Assim como temo estar no meio da fila de formigas que seguem seu propósito firmemente
Tão focadas naquilo que é bem maior
Me envergonho por pensar em me atrever a interromper a linha do seu pensamento
Que deve ser elevado e ponderado
Sobre o mundo e as pessoas

A senhorinha de cabelos branquíssimos mantém os cabelos lisíssimos sempre impecáveis em um simples coque
Olha pra frente, e nunca pro chão
E nunca tropeça
Ela sabe bem onde colocaram as pedras dessas ruas
há alguns séculos atrás.
Nada a engana
Nem mesmo a moça de cabelos encaracolados que insiste em olhar pra trás
espiando seu trajeto
Tentando sorver um pouco de sua sabedoria

A senhorinha de cabelos branquíssimos
não fica doente
Mesmo na chuva, ela sai pra caminhar
e colocar tudo que está fora, no lugar
Mesmo que precise entrar no ônibus que a aguarda na esquina
Ela senta, com a expressão constante
E termina o dia, satisfeita.

A senhorinha de cabelos branquíssimos
usa um sapato branco,
limpíssimo.
Ela desvia das sujeiras,
é dona de si e do percurso que escolhe.
Os cheiros e criaturas estranhas dos arredores não lhe causam sensação alguma.
São parte da paisagem.

A senhorinha de cabelos branquíssimos
Se riria de mim
Se soubesse que eu,
que tenho um terço da sua idade,
deixo de sair de casa pra ver o céu azul
porque me senti presa pelos medos e ansiedades infundadas
Que me torturam desde a adolescência

A senhorinha de cabelos branquíssimos,
com uma palavra somente,
me colocaria no meu lugar
De mulher, forte por natureza,
Jovem, pela lei natural da existência
E me levaria no portão depois de cochichar:

"Moça, esse chão também é seu.
Vai e usa dele pra fazer o seu destino.
tem sangue índio e negro em nós,
Não seja menos dona do mundo do que nós sempre fomos".





terça-feira, 5 de setembro de 2017

Mais um talento

Suas palavras acariciam meu coração em lugares que nunca haviam sido tocados.
Elas entram na minha cabeça como canção de ninar pra minha mente acelerada e assustada.
Cuidam das feridas que eu insistia em reabrir, maltratar, descobrir. E que eu acreditei que não iria sarar.

O jeito que você escolhe as palavras
Me faz sentir amada.
É como se você estivesse montando um buquê de flores para uma data especial
Claro que com flores encontradas soltas.
Você seria incapaz de arrancá-las do caule só por vaidade.

O jeito que você escolhe dizer as palavras...
Ai! Me dá arrepios de prazer,
enche minha existência de alegria
Grata por poder te ouvir

O momento que você escolhe para me entregar as palavras
às vezes é quase sobrenatural,
de tão instintivo e certo
O encaixe ideal
Na dose e no tempo que eu preciso, mas que nem havia contado
Você só percebeu, e fez.

É tanto amor envolvido nesse complexo ato de se comunicar,
E mesmo assim, te vejo desprendendo energia e cuidado para ser o melhor pra mim
E pra todos que você deseja o bem
Olha, eu vejo!

Um menino que se dedica às preciosidades do caminho
Que encontra tesouros escondidos debaixo de folhas secas e barro
E te fazem rico
Espero que feliz

Você me faz feliz.