quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Não, eu não tenho desvios

quando criança eu me perguntava como eles conseguiam fazer tantos amigos.
depois passei a me perguntar como eles se relacionavam com as pessoas.
aí eu me pergunto como eles conseguem viver?
eu queria poder me deitar em um daqueles divãs de couro marrom claro de algum ator encenando um psiquiatra famoso e deixar que ele consertasse minha cabeça.
mas eu nem me lembro se no final todos eles não passam de fracassados ou farsantes.
o bom de escrever é que quando os pensamentos são registrados, a voz diabólica que os cochichou simplesmente se cala e aí fica tudo parecendo uma grande bobagem.
eu queria falar em ser frágil e morrer de fragilidade.
queria por fogo na casa se tivesse certeza de que o que restaria seria apenas cinzas.
olha que bobagem!
parece que todos os humanos um dia tem que tomar uma decisão mas isso não é verdade.
tem gente que tem dinheiro e não precisa fazer nada.
por que a gente é obrigado a sair do útero delas e viver nossas vidas?
isso parece tão cruel...
condenado a sobreviver e ainda por cima ser feliz.
que maldade!
mas lá vem eles dizendo que não entendem.
mas o fato é que, mais que qualquer outra coisa, eu me sinto um feto.
indefeso e nojento feto que não poderia se defender de um aborto.
mas é verdade. sabia que às vezes eu me embolo com as palavras como se estivessse esquecido todas elas? é como se eu estivesse em um país estrangeiro querendo apenas passar despercebida. daí eu falo qualquer coisa de ininteligível e eles ficam me olhando como se eu fosse uma retardada.
é... seria uma boa desculpa pois eu teria passe livre pra fazer a única coisa que sei fazer: observar. e ninguém me perguntaria o que eu penso, o que eu sinto. No máximo me tratariam como uma criança e me julgariam altista. e eu morreria sem a culpa de ter fracassado em ser gente.
mas eles ficariam assustados demais se me ouvissem, talvez até adoecessem.
Não, eu não quero ser mais pesada ainda. Deixa as coisas assim.
Meus medos são os de parar em uma clinica psiquiátrica e morar na casa de meus pais aos 30 anos de idade e não poder sair por saber que ainda não estou preparada pra vida.

sábado, 22 de novembro de 2008

...e saí.

[...]“Na hora do parto, perguntei ao médico: ‘Doutor, a minha filha é perfeita?’”, diz Laurinda. “Ele me respondeu: ‘O que é ser perfeita? É ter braços? Pernas? Então ela é perfeita’”.

[...] “Foi um choque descobrir que a minha filha era Down. O médico me contou da pior forma possível. Disse que ela ia ter um monte de doenças, ter problemas cardíacos e ia morrer. Até que uma amiga me alertou que eu teria de escolher entre fechá-la dentro de casa ou abri-la para o mundo. Vesti a Gabriela com a melhor roupa e saí.”

[...]







Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI11982-15228,00-MAMAE+E+DOWN.html