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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Preciso mudar. Ainda não sou eu.

Viver sob as rédeas de alguma religião bibliocêntrica, e depois de um tempo (longo, doloroso e em andamento), me libertar, me trouxe certa lucidez para entender o que há de importante na vida.
Numa dessas descobri que não quero ser criacionista, animista, gnóstica, agnóstica ou atéia; nem racionalista, humanista. Que posso até topar inventar um deus só pra mim; posso olhar pro céu e chamá-lo de deus... e dar-me por satisfeita porque isso não é afronta para ninguém, muito menos para o tal deus único e verdadeiro.
Enfim, o que eu vim registrar é: há pouco mais de um ano, eu vivia em função do deus bíblico (é, aquele mesmo que é misógino,  assassino, machista, ciumento, maníaco por controle, vingativo, eugenista, homofóbico, infanticida, genocida, filicida, pestilento, megalomaníaco, e malévolo _ fonte: bíblia). Assim, tudo o que tivesse a ver com a minha felicidade, eu obrigatoriamente atribuía à Deus, um favor seu para uma pecadora tão miserável. Mesmo assim, não cansava de me inferiorizar e de sentir não merecedora da vida que tinha. [Entendam, eu ouço esse discurso desde que tinha um mês de vida, quando fui "apresentada à deus" na frente de uma igreja pelo pastor e meus pais.]
E hoje, enquanto lia um texto de Alice Walker contando sobre seu crescimento espiritual, identificação com o infinito e progresso no mundo, hoje eu me peguei pensando que eu havia perdido a percepção de meu próprio ser. Ser: esta junção de carne e imaterialidades que dá a cada um o potencial de ser um micro-universo único e fantástico. Eu estava tentando ser o que a bíblia diz que eu deveria; como se ela guardasse a receita universal para a felicidade e sucesso, com um paraíso para os fortes no final - aqueles cuja força está em deus.
E agora eu me pergunto: é sério que não há nada de bom em nenhum de nós? Que tudo de bom vem de deus, criador dos céus e da terra?
Eu não consigo mais acreditar nisso. Sofro de uma incapacidade para continuar acreditando e defendendo. Depois de conhecer tantas pessoas lindas na sua impureza e imperfeição, seria tolo me forçar de volta para dentro daquilo que me garantia o conforto de uma família espiritual, contanto que eu compartilhasse das mesmas aspirações e princípios.
E não quero mais isso pra mim. Quero descobrir por mim mesma. Sentir por mim mesma e não a partir das histórias distorcidas que me deixavam ouvir. Não me interessa se é uma ou várias vidas, ou se  vida é algo maior do que o espaço entre o parto e o caixão. O fato é que, eu respiro e estou consciente. Penso, produzo, ouço - filtro - repasso, volto atrás e desminto pra começar tudo de novo.
Eu sou o eterno recomeçar. Reconstruir. Resistir.
Resiliente, embora já tenha desejado a minha própria extinção.
Eu quero correr por essa floresta misteriosa e cheia de armadilhas que é o mundo; mas que guarda paisagens encantadoras e uma tranquilidade suprema. Sem medo de me ferir. Peito aberto para o que vier. Coragem animalesca; prudência mesclada com a sede de novas experiências e lições.
Atribuir meus próprios significados ao céu nublado, pesadelos, trivialidades. Não como forma de me consolar, mas sim para me sentir no controle e capaz de mudar o rumo quando bem entender.
Não existe situação sem escapatória.
Sou jovem, eu sei. É a fase de "achar que nada de mal lhe acontece - é dono do mundo". Eu posso escolher não fugir à regra, ou criar uma nova. E se eu, no meio dos meus choros e desesperanças já vivi a minha fase de velhice e agora, a juventude chegou pra mim? Eu posso inverter e depois querer viver tudo de novo.
Não quero o peso de ter que viver como se o destino da minha alma dependesse das frase "jesus é meu salvador e senhor" - céu ou inferno; fogo ou rios de águas vivas (ai!).
Quero olhar para Jesus e admirá-lo, e só. Quem sabe, seguir um conselho ou outro, ler algum sermão inspirador. E proceder da mesma forma com Osho, Buda, Luther King, Saramago, Gandhi, e por que não, Alice Walker, que me fez chegar às conclusões do dia de hoje.
Minha fé, se é que algum dia eu tive alguma, se foi. Ainda bem. Porque eu não quero ter confiança absoluta em nada nem nenhuma opinião firme de que algo é verdade. Meu texto inteiro pode ser uma ilusão que só serve pra mim; um completo engodo. Mas ME serve. E eu aceito essa única justificativa porque EU sou importante e não há pecado nenhum em pensar assim. Pecado não existe pelo simples fato de que não existem leis divinas para serem quebradas nem uma divindade para aborrecer e provocar a ira.
Pessoas são importantes e de valor inestimável e inerente. É só disso que precisamos saber.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sobre jardins e pessoas

Quero sorrir e quero chorar. Quero ser todas elas: as loiras, as ruivas, as orientais (se é que encontrou uma). Quero ser a única jambo.
Calma, não balance a cabeça. Contento-me em estar no centro de um pequeno bosque a nordeste do ponto de referência mais importante que tiver, seja ele qual for. 
Eu sei que existem outros esconderijos, cavernas e estátuas. Porque eu sei que você não é um jardim; é floresta. 
Que eu quero conhecer com cada linha de minha digital; 
toda vez que trocar de pele, quero apresentar minha superfície à você; 
quando uma nova gota de saliva ou suor brotar de mim quero oferecer para deguste de sua língua; 
antes de os odores se desprenderem e ganharem o ar, quero que os inale e entorpeça; 
cravar minhas unhas em você antes que eu as corte e elas cresçam sem te conhecer.


Se não posso ser todas (elas) ainda há a chance se ser toda (eu). E uma pessoa inteira vale muito; vale mais que várias pessoas-pela-metade (ou nem isso) juntas. Você vale mais e, se meus olhos brilham, é de ver tanta riqueza junta.
Não vou mentir dizendo que não sinto medo quando chega a noite e ouço barulhos estranhos, risos escancarados, asas batendo das folhas _ festa na floresta. Medo de definhar esquecida em um lugar sem água nem alimento. De sofrer e você não se importar. 
Mas a bem da verdade é que não se importa. E eu sei. E fico. Elas sabem e ficam. Andamos nuas a te servir, alegremente; uvas na boca, água quente nos pés. E fico não sei porque. Por não ter pra onde ir? Por gostar de algo  misterioso que só tem ali? Fico.
Se eu beber você fico jovem pra sempre; e eu bebo _ se se colocar a um gole de distância de mim. Não me censuro, nem você. 
Espero no tal bosque escondido, a nordeste, etc. É só seguir o barulho das águas inquietas, borbulhantes: meu sangue quando te ouço aproximar.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O tempo vem.

Com a cara igual à da minha roupa: cinza.
Os olhos que vejo são pretos, vivos. Sua garota é vermelha, branca.
Nuvem de cigarro e mesmo assim, eu os enxergo rindo, plenos, suficientes.
Caminho de um lado pra outro, ando em círculos, dou voltas ao redor da gente que se amontoa.
Mesmo com tanta gente espalhada, eu só os vejo (os olhos): negros, vivos.
Me pego sem limites! O do compromisso do negro com a vermelha, branca. Não respeito na minha cabeça.
No último Natal era eu, ela.
Soltaram-me, enfim. Quase desumano vê-lo humano, amando, posando de fiel.
Um paradoxo encarnado. Porque canta que é "navio no mar sem porto e sem dono"; uma "ilha deserta onde ninguém quer chegar". E anda com ela, dá um nó com as mãos dos dois, faz as vontades dela que é vermelha, branca.
Quis sair mas estava sem as chaves de casa. Voltei e vi, bem negros, vivos: os olhos.

Mergulho

E eu fiquei de todas as cores, a todas distâncias possíveis do chão (inclusive dentro dele).
E eu pulsei em todas as frequências. As grandes artérias esmurram meu pescoço, pulsos, vísceras; se debatem. O rosto ferve, o suor borbulha na minha superfície. Os músculos congelam.
É assim que é estar de cara limpa e corpo presente no meio do mundo. De frente pro mundo e seus absurdos e suas concretudes, suas pessoas.
Por algumas horas estive sem capa, cobertor, teto de gesso, paredes e portas para me abraçarem. Estive lá fóra.
Fato que pode ter me mudado em alguma medida. Fato que poderia me forçar para dentro de mim mais ainda.
Penso em não ir, embora não saiba onde exatamente ficar. Depois que chegar da rua, da aventura, do dever... onde recostar?
Não quero travesseiros cheios de penas de gansos mágicos ou algodão doce enfeitiçado nem folhas de uma floresta encantada.
Acho que hoje eu vou dormir sem travesseiro.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ai.

Dividida entre estar com você, no escuro, ou seguir em direção ao Sol, a quem devo a vida.
Seria melhor se viesse para cá, afinal, você é tão humano quanto eu e, ambos precisamos de luz, água e pão. No escuro onde você está não existe nada disso, você não sente?
E seus amigos? E suas amantes? E sua paixão? Um passo grande demais é abandonar. Eu sei. Passo por isso.
Eu poderia ficar um pouco na noite com você, quando pedisse, quisesse, chamasse. De dia eu voltava e esquecia. Mas não foi concedido a ninguém ter duas faces, duas identidades, dois corações: um pra se perder, outro pra se salvar. Agir como se isso fosse possível é colocar a vida em cheque, é brincar com as leis, é arriscado, ou pior, é certamente desastroso.


Digo assim porque admito que não sou totalmente invulnerável a seu semblante esquadrinhador, o sorriso de canto de boca, e a voz que te obedece como se fosse sua escrava.
Escrevo para acabar de uma vez por todas com os resquícios e memórias que de vez em quando me capturam e maltratam.
Mas não acredito muito que assim será.
Se pelo menos houvesse algo palpável o qual eu pudesse quebrar ou cortar para então sumir... mas não há.
Está tudo aqui: dentro.
Temo não conseguir encará-lo quando o ver.
Temo.
Tremo.
Uma ampulheta derramando areia pra me avisar que está quase no fim, ajudaria.
Só faço pedir.
Que acabe logo, logo. Não é possível... Não deve ser.

Casas

Você deve rir-se da situação de quem, como eu, vive partido. Um duelo sem fim entre bem e mal: dores de cabeça. Você está livre, encontrou um meio-termo e está muito bem, obrigado. Nenhum peso nos ombros, nenhuma fraqueza inexplicável, nenhum desejo que te coma.
Resta-me esperar pelo último dia de nossas vidas, ou da sua, ou da minha. Em casos extremos a verdade aparece; a mentira não aprendeu a ficar de pé, só rasteja.
E se você ficar pra sempre aí? Pra sempre pensando estar certo, ou "_não existe isso de certo!", você diria.
Diria também que isso de 'pra sempre' não existe, tudo pode mudar a qualquer momento por qualquer motivo. Basta sair de casa.
Você saiu de casa. Não quer voltar. Lá não funciona pra você. Aliás, seu lá é meu cá hoje em dia. O que deu errado? Por que não funciona mais? Como você vive longe? Como você pôde adotar outra casa? Por que?
E uma angústia louca por não entender, por que estou angustiada?
Não sou sua mãe nem sua amiga de infância que te viram ir embóra, se afastando, um passo de cada vez. Elas que talvez doam por você não estar mais.
Quando não se sabe como agir, chora. Coisa de mulher. Mulher como eu, não todas. Existem as de fibra, as guerreiras. Mas eu desconheço o inimigo, não sou boa estrategista; sou de pó.
Tem tanta coisa colorida aí fóra, não é? Tantas luzes, tantos sons... Deve ser isso o que te fascina. Ou será a liberdade para sentir ventos de qualquer lugar no rosto, conhecer corpos e rostos diferentes, rir descontroladamente sob o efeito de alguma mágica...


É como se fosse uma missão; trazê-lo de volta.
Mas você não quer vir...


Choro.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Azul

E quando você passeia em mim, é como se fosse uma descoberta, algo inédito, inusitado. É uma viagem calma, uma música lenta, a seiva que brota na floresta.
Eu querendo ver as roupas caírem descosturadas; as peles a se fundirem, quentes.
Corpos flutuando; pra quem qualquer superfície é grama, qualquer teto é céu, qualquer brisa dá arrepio: o meu termina no seu.
Como flutuam, esquecemos dos nós, dos embaraços, dos soluços...
Fiquemos tranquilos, nos embalando, nos ninando, que hoje o dia está lindo demais!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A ira dos anjos II

São Tomás de Aquino tinha dito que quando se atinge o ponto mais alto do pecado, tudo deixa de ter importância. Jennifer perguntava a si própria se o mesmo se passaria em relação ao amor. Tinha consciência de que aquilo que fizera fora, em parte, devido a uma profunda solidão.

Sidney Sheldon

A ira dos anjos

Jennifer olhou para Adam, concentrado no problema de palavras cruzadas e pensou: “Reza por mim." Sabia que estava a fazer uma coisa errada. Sabia que aquilo não podia durar para sempre. E, no entanto, nunca experimentara tanta felicidade, tanta euforia. Os apaixonados viviam num mundo especial, onde todos os sentimentos eram mais profundos, e a alegria que Jennifer sentia agora junto de Adam era digna de qualquer preço que ela tivesse de pagar mais tarde. E sabia que ia ter de o pagar.
[...]
Agora, o seu tempo era contado pelos minutos que podia passar com Adam. Pensava nele quando estava com ele, e pensava nele quando estava longe dele.
Jennifer estava dominada por emoções que até aí desconhecera existirem nela. Nunca imaginara que pudesse ser caseira, mas queria fazer tudo para Adam. Queria cozinhar para ele, limpar para ele, preparar-lhe a roupa de manhã. Tomar conta dele.
Ela ficava deitada ao lado dele, vendo-o adormecer, e tentava permanecer acordada o máximo de tempo possível, com medo de perder um único momento que fosse do tempo precioso que passavam juntos. Por fim, quando Jennifer já não conseguia manter os olhos abertos, aninhava-se nos braços de Adam e adormecia, satisfeita e confiante. A insônia que durante tanto tempo atormentara Jennifer tinha-se dissipado. Os demônios noturnos que a haviam torturado tinham desaparecido.
Quando se enroscava entre os braços de Adam, sentia-se imediatamente em paz.
Gostava de andar pelo apartamento com as camisas de Adam vestidas e, à noite, usava o casaco de pijama dele. Se ainda estava na cama quando ele saía, de manhã, Jennifer rebolava para o outro lado da cama. Amava o odor morno dele.
Parecia que todas as canções de amor que ouvia tinham sido escritas para Adam e para ela, e Jennifer pensava: “Noel Coward tinha razão. É surpreendente o modo como a música sem qualidade consegue ser poderosa."

[...]Desejava que aquilo que possuíam nunca acabasse. Mas sabia que havia de acabar.



Sidney Sheldon

Eu chorei lendo isso, juro!

terça-feira, 22 de junho de 2010

Bandeira Branca

Querendo dizer algo de denso. A cabeça já cheia e zonza... Quero cair.
Venho pra te fazer sentir culpa. 
Por não querer; não gritar meu nome; pelo meu desequilíbrio.
Culpado por levar esses olhos tristes no rosto; esse porte largo; essa voz chorosa; esse peito desprotegido.
É tudo o que eu já disse antes.
Porém, não é inocente. Não veio me roubar de mim, da minha melancolia, da grande invenção que é onde mora minha mente. Onde descanso e tento entender quando que deixei de saber exatamente o próximo passo. Quando perdi a alegria que o otimismo dá.
Otimista quanto à um desejo, um capricho concebido. Quando foi, volta?
Desculpa por não dizer. 
Mas eu não perdôo por não ter perguntado, nem se importado.
Equivocada. 
Todo o tempo. Os sonhos não páram de circular em minha mente.
Eles fingem acontecer. Mas é só mentira.
Os dias emendam-se e é tudo um eterno continuar: o prosseguimento da vida sua, eu sem fazer parte de nenhuma. Nem da minha.
Sei que isso não é motivo pra birra ou berro ou choro ou ódio. É só motivo pra silêncio.
Ando em retirada pacífica. 
Sem enterrar nenhuma mina explosiva em seu campo, nem armadilhas, nem saudades.
Não saio de mãos vazias:
Tomei seus olhos tristes; o peito desprotegido; os passos soltos. São meus agora.

sábado, 19 de junho de 2010

Oportuno

"Cerremos esta porta.
Devagar, devagar, as roupas caiam
Como de si mesmos se despiam deuses,
E nós o somos, por tão humanos sermos.
É quanto nos foi dado: nada.
Não digamos palavras, suspiremos apenas
Porque o tempo nos olha.
Alguém terá criado antes de ti o sol,
E a lua, e o cometa, o negro espaço,
As estrelas infinitas.
Se juntos, que faremos? O mundo seja,
Como um barco no mar, ou pão na mesa,
Ou rumoroso leito.
Não se afastou o tempo. Assiste e quer.
É já pergunta o seu olhar agudo
À primeira palavra que dizemos:
Tudo".
In Poesía completa, Alfaguara, pp. 636-637
Samarago

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Impressões



Penso ser melhor agora.
Que não me preocupo com o que estará fazendo no outro dia de manhã ou, na noite seguinte, quem abraçará.
Tudo que existe de substância, de concretude, de palpável, estava ali. Por que me perturbaria?
A dúvida é só uma. Continuo só?
Porém, não me perturbo.
Bem melhor.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Motim

Aviso: Trata-se de uma tentativa frustrada e  mal-acabada de traduzir o que balbucia um coração. Tenha sempre em mente que é impossível fugir do indizível.


Ainda não tinha experimentado. Por mais absurdo que pareça, o céu foi convertido em outro quando você me apontou as constelações. 
É absurdo como, mais uma vez, você sái e minhas pernas imploram por teu rastro. Querem que eu as leve pra perto das suas... perto o suficiente para um movimento de luta na qual não importa quem imobiliza o adversário mas, sim, o que vem depois.
Só agora percebo que ecoam gemidos de sob os cabelos reclamando hálito quente, mãos firmes, um afago doce até. Os olhos resolveram ter idéia fixa e em cada canto imprimem um vulto seu.
Da pele emergem placas de ardor por todos os lados reivindicando um só remédio.
Desaprendi as táticas de repressão e auto controle ao constatar meu corpo assim rebelde e cheio de exigências. Ou, por pura displicência, deixei as armas que tinha se desvencilharem dos meu dedos.
Os golpes que são desferidos dentro me machucam. Quão paradoxal isso consegue ser?
Parte de mim é cúmplice do alvoroço. Financia-o e põe fogo. Se assim não o fosse, teria usado do poder descrito pelas ciências da mente humana concentrando-me em calar esses rumores e ameaças.
E você alheio ao rebuliço.
Não sabe o poder que tem.
Carrega consigo a essência que embebeda.
Leva na garganta a voz que seduz e no peito, uma granada.
Sem cuidado, se espalha por aí.
Meu Deus! Daí, então, o que me restará? Se é impossível aprisionar algo seu pra por debaixo de meu travesseiro, diga, o que resta?
Antes possua e deixe que suspire. 
Não, um suspiro seu eu não posso aguentar.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Que alguém cuide de você.

Atira o corpo dormente na cama. Faz o que gosta: Lava o rosto e umedece os lábios com as gotas transparentes e salgadas, presente dos olhos para acalentar o coração. Sem histeria ou desespero... já disse: é um presente mas também lembrança.
Lembra que não é preciso acertar sempre nem se desvendar por completo. Sempre haverá algo a ser resolvido mais a frente; por isso, caminha!
Quase pede perdão (a rádio lhe despertou a sensibilidade).
Espera. Não quer mais isso de precipitações. Mas, e se hoje for o dia ideal para algo deliciosamente inesperado (vamos lá, você poderia ter criado sua oportunidade)... E se atrás do bosque houver um coração simétrico (mesmo que invertido), e se isso no céu foi provocado por algum sinalizador vindo de trás do bosque? E se ele também quisesse e você simplesmente se nega?
Espera mais um pouco. Vê que não é bem assim, que tem o direito de deixar se dominar por si mesma. Não mata o animal que nela habita e em alguns momentos ele (o dono) agradece por não tê-lo feito... as feras sabem como enlouquecer.
Foi só instinto, nada demais. Nada que possa ser justificado verbalmente. Saiba que qualquer tentativa será uma mentira.
Mas, e quanto ao corpo dormente? Duvido que tenha coragem de negar que (também por instinto) quis ser beijada por todo o comprimento e largura das suas costas. Quis lábios por toda sua extensão. Quis ser qualquer coisa que o enchesse os olhos. Quis ser o bastante... a peça perdida ou o acorde, o arranjo, a frase.
Sem dificuldade, então, seria brinquedo que se perde no ar: uma bolha, talvez? um balão?
Vê no filme a cena de um abraço e chora. Mais outro, chora.
O que isso significa?

sábado, 19 de dezembro de 2009

Despertar

Se eu não contasse eu não iria me sentir completa.
Guardar sensações como aquelas chega a ser egoísmo. Compartilhá-las é minha ambição.
O notável é que não foram emoções novas que me invadiram o corpo durante o sonho. Foram as de um passado não muito distante. Por isso fico feliz em concluir que tenho me entregado inconscientemente à mais essa forma de amar.
Perdoe-me o verbo (amar) mas é que ele tem tantas faces... umas mais verdadeiras que outras mas é amor. No entanto, se você acredita cegamente que amor é verdade sempre, pode ir. Ou então fique se eu te convencer com o argumento que o que eu aceito como verdade pode não ser para outro. No fim das contas, o amor é o que a gente procura.
Mas não é essa a questão.
Acordei serena e angustiada, confusa e bem resolvida. É que a mente cria 'emendas' para que o pouco que existe na vida real seja correspondente aos desejos do coração.
Coração enganoso? Eu gosto assim. Gosto de sentir raiva quando longe e logo depois perdoar quando perto. Perdôo traições não cometidas mas imaginadas; porém, as traições não podem existir pois ele tem asas e disse que eu as tenho também. Asas na mente, no corpo, nos sexos, na língua e no ser.
Além do mais, só existe lugar pra um na sua garupa. É assim que eu prefiro pensar. Eu sou matéria excedente em sua rotina e logo que chego, saio para dar espaço ao outro que estava ali.
Eu vim pra ficar no lugar de alguém quando este se distrai. Não cabem promessas nem laços de alma. É temporário e indefinido. Não sei quando vai aparecer uma fenda para eu invadir por ali.. assim sem aviso, sem oferecer chances de defesa. Só vou embora quando sinto que devo; não adianta me dar essa ordem. Eu vou saber quando você não precisar da infecção que eu provoco. Eu vou saber quantos anticorpos seus eu vou matar.
Eu também curo. Selo pequenos arranhões com minha saliva, faço enxertos com minha própria pele. Sou remédio, sou droga, sou alívio.
Peço que fique ao alcance dos meus olhos sempre que possível e se deixe sem medo em minhas mãos... Eu saberei o que fazer.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ele me fascina

Ainda não havia me dado conta da sua musicalidade, disso de tão grandioso que domina meus sentidos. Então, quero mais é te ter...
Não ser dona nem posse. Só estar do lado durante alguma parte do teu percurso, ou da tua parada para descanso. Eu te acompanho.

Sinto um pouco de medo, eu tenho que admitir. Medo da sua loucura, dos seus traumas, dos seus vícios.
Mas sua voz me acalma. 'Cantante' ou não.
Eu só preciso que dance. Porque dançar é ser livre e é assim que eu quero que me vejam.
Delicie-se com minha expressão solta, contente e grata ao Universo por deixar uma linha no espaço para ligar dois olhares sob o céu 'enluarado'.
Não existe mistério algum, eu lhe digo tudo (se você quiser ouvir).
Mas, se você gostar de enigmas, me explica o que acontece quando os tecidos da sua estrutura abalam a minha.
Só por curiosidade.

domingo, 25 de outubro de 2009

Nova parada

Como música quero que me ouça e absorva as ondas que emanam do sons deste arranjo de harmonias.
Mantenho uma certa distância, se isso lhe for necessário. Deixo espaço para que respire, coma e beba e até corra. Na verdade, te vigio só com o canto do olho esperando um aceno para então virar completamente o rosto em sua direção. Me aceite naquele intervalo parado no tempo; é um convite para que eu viva aquele instante com você... Percebe a seriedade da proposta? Compartilhar dos mesmos minutos, os mesmos irrecuperáveis e singulares minutos.
Se me pedir silêncio, sufoco meus gritos de desalento, os choros sem razão, escondo os cortes que me expõem os ossos. Para que durma tranquilo, sem perturbações... Para que eu possa acompanhá-lo ali, ao pé de[...]


Não posso continuar com isso de escrever tudo.
As palavras me roubam os sentimentos. Assim eu os perco e não estou em condições de perder o pouco que tenho.
Quando aprender a dominá-las (e a mim), volto e conto tudo. Só quando parar de atribuir tanta emoção à esse conjunto de letras.
Preciso parar.