terça-feira, 23 de novembro de 2010

O tempo vem.

Com a cara igual à da minha roupa: cinza.
Os olhos que vejo são pretos, vivos. Sua garota é vermelha, branca.
Nuvem de cigarro e mesmo assim, eu os enxergo rindo, plenos, suficientes.
Caminho de um lado pra outro, ando em círculos, dou voltas ao redor da gente que se amontoa.
Mesmo com tanta gente espalhada, eu só os vejo (os olhos): negros, vivos.
Me pego sem limites! O do compromisso do negro com a vermelha, branca. Não respeito na minha cabeça.
No último Natal era eu, ela.
Soltaram-me, enfim. Quase desumano vê-lo humano, amando, posando de fiel.
Um paradoxo encarnado. Porque canta que é "navio no mar sem porto e sem dono"; uma "ilha deserta onde ninguém quer chegar". E anda com ela, dá um nó com as mãos dos dois, faz as vontades dela que é vermelha, branca.
Quis sair mas estava sem as chaves de casa. Voltei e vi, bem negros, vivos: os olhos.

Mergulho

E eu fiquei de todas as cores, a todas distâncias possíveis do chão (inclusive dentro dele).
E eu pulsei em todas as frequências. As grandes artérias esmurram meu pescoço, pulsos, vísceras; se debatem. O rosto ferve, o suor borbulha na minha superfície. Os músculos congelam.
É assim que é estar de cara limpa e corpo presente no meio do mundo. De frente pro mundo e seus absurdos e suas concretudes, suas pessoas.
Por algumas horas estive sem capa, cobertor, teto de gesso, paredes e portas para me abraçarem. Estive lá fóra.
Fato que pode ter me mudado em alguma medida. Fato que poderia me forçar para dentro de mim mais ainda.
Penso em não ir, embora não saiba onde exatamente ficar. Depois que chegar da rua, da aventura, do dever... onde recostar?
Não quero travesseiros cheios de penas de gansos mágicos ou algodão doce enfeitiçado nem folhas de uma floresta encantada.
Acho que hoje eu vou dormir sem travesseiro.