segunda-feira, 11 de abril de 2011

Abandono desordenado

Detesto quando acontece disso de um dia terrível não acabar. Uma noite se emenda na outra manhã e a angústia persiste.
Motivo? No sonho tudo se acerta, se conserta, se entende e aceita.
Não tem funcionado mais. Logo o sono, que sempre foi o jeito natural de apagar tudo. Os dias não eram pra ser recomeços? Penso em Sol e logo me vem a ideia de vultos do passado sumindo, vozes medonhas se calando, os bichos-papão fugindo. Mas o Sol me acordou com raios maldosos, queimando tanto quanto o frio extremo de se perceber só.


Um filme de memórias começou a desfilar diante de mim minuto após minuto e não há como pará-lo. E sou obrigada a assistir os sussurros, risadas e mãos se esbarrando. Os corpos quentes que um dia estavam vivos, as confidências codificadas em frases desconexas e quase sem sentido não fosse a pouca distância que fazia de tudo aceitável. Nada era feio demais de se dizer porque estávamos perto, em nossa companhia, em segurança.


De tanto ler romance chego ao cúmulo de pensar que a  indiferença seja uma ação movida por um sentimento nobre, uma causa notável. Poderia acreditar nisso e sossegar mas a ideia de que pode ser o contrário não me deixa.


Temo que entregar meu coração às traças novamente seja o ato mais cruel que poderia fazer contra um sentimento puro. Mas ainda é uma possibilidade.

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