segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Não me olhe assim

Tinha me prometido não recorrer às palavras tão descaradamente quanto o faço aqui mas... Não sou de cumprir promessas.

Age como um bicho.
Assustado. Alguém já lhe feriu a carne? Alguém de cabelos longos, feição delicada, de gestos singelos, enfim, uma mulher? Preparado para um ataque qualquer vindo de outro local indefinido, inexistente. Dá passos cautelosos como se houvesse uma mina de explosivos sob seus pés; armadilhas que lhe sequestrem o chão firme.
Selvagem. Mantinham-no preso em alguma espécie de jaula para almas confusas e famintas? Não duvido que esta tenha sido construída pelas mesmas mãos que me rasgam a pele, que exploram meu corpo descascado e indefeso. E por um acaso, essas mãos são as suas. Movimentos frenéticos, fôlego traiçoeiro; tanta sede e tanta fome de pele, de terra, de suor.
Ingênuo. Um pequeno afago já lhe alivia as expressões. Palavras açucaradas o seduzem e quase se esquece que tem motivos para não se render. Por outro lado, o sarcasmo e a ironia o machucam como facadas e golpes de arpões. Acredita que tenho o poder de enxergar os porões escuros e úmidos do seu íntimo se me demorar um pouco mais fitando os seus olhos.
Forte. Não se deixa adormecer sobre meu colo desnudo, moreno e quente. Caça seu próprio alimento, cose as próprias roupas e com os farrapos estanca o sangue de suas hemorragias intermitentes. Quando se permite algum prazer que o mantenha estável, me procura e eu o saciarei sempre. Mas mal chega, sai apressado, fugitivo, ágil e feroz.

Não sei nada dele nem das verdades/realidades condizentes às metáforas que utilizei à pouco. Não quero ser terapeuta nem ouvinte. Só quero ser abrigo. Um lugar seguro para onde ele possa fugir.
Fugir para mim e não de mim.

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